sábado, 22 de março de 2008

Papai, o que é Páscoa?

- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é... Bem... É uma festa religiosa!
- Igual Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
- Um dia depois.
- Não, três dias.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na sexta-feira santa... Ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta.
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!!!

Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 19 de março de 2008

Velha Infância

Defina em apenas uma palavra a sua infância.

Não, isso aqui não é um teste psicológico, muito menos uma dessas provas de concurso público por aí. O verdadeiro sentido desse questionamento é fazer você lembrar do quão maravilhoso foi o seu período de criança, ou da quão horrenda foi a sua meninice. Seja qual for a sua resposta, esteja certo de uma coisa: não existe melhor momento na vida do que a infância. E digo por que.

É nessa época que você aprende as coisas mais importantes e úteis possíveis, que vão lhe seguir pelo resto da vida, desde um simples ato de somar até o valor imprescindível que seus pais têm. A infância guarda os eternos momentos, que insistem em nunca mais acontecer, seja pelo seu desenvolvimento de corpo e mente ou pelas oportunidades que insistem em não se repetir.

É na puerícia que os seus pais demonstram as mais grandiosas provas de amor a você, com um detalhe que não existe na juventude: você retribui. Nesse momento, também, você é agraciado com bonecas Barbie, carrinhos de controle remoto, super-heróis gigantes e os infinitos brinquedos da Mattel ou da Estrela. Agora venha me dizer que brincar a tarde inteira é chato!! Chato mesmo é fazer infinitas equações de 1º grau ou trabalhar em uma empresa onde o chefe mais reclama do que dá ordens...

É na infância que se vê a verdadeira graça da vida. Você desmente seus pais, conta verdades onde deveriam se incluir mentiras, quebra objetos comprados na loja mais cara do shopping, ri dos outros sem menor preocupação com o que eles vão pensar, cai, se levanta e continua a andar sem queixar-se de dores nos quartos, salas e cozinhas... Ganha um beijo da menina mais bonita do bairro, risca as paredes da casa, sem falar nos infinitos lugares que você conhece de carro ou ônibus com aquele seu tio gordo que sempre pára nas lanchonetes da cidade.

Mas a beleza da infância não está resumida só a isso. Tal beleza é inexplicável, porém inegável. Só quem lembra com lisonja dessa época, pode contar os pontos positivos. Os negativos ficam a cargo dos que lembram desse período com um gosto amargo na boca, mas que adorariam voltar no tempo pra corrigir um ou dois erros que ficaram pendurados.

“Ser criança é poder fazer as coisas mais perigosas (e sublimes) sem se preocupar com as conseqüências. Cair de um pula-pula, tropeçar quando se brinca de pega-pega, sonhar com o impossível, levar uma surra por ter colocado chiclete no vídeo-cassete... Nada é tão esplendoroso quanto a nossa infância. Depois, o máximo que iremos conseguir é cair do décimo quarto andar por desgosto da vida, tropeçar na frente de seu chefe no dia de sua admissão, sonhar com o impossível e desistir depois ou levar uma surra de um ladrão de merda que gostou de seu rolex... As circunstâncias são as mesmas, o que muda é a vida!!”
Marcos Lima