sábado, 22 de novembro de 2008

(Eu) Sonho Coletivo

Algumas pessoas que conheço dizem odiar andar de ônibus. Também pudera. Toda aquela coletividade apertada, os odores desagradáveis, o barulho abafado e o desconforto característico da lotação, que já fazem parte de nossa realidade, chegam a cansar o trabalhador ou o estudante antes mesmo do início de sua rotina dita “oficial”.

Por outro lado, ainda existe uma gama de gente que adora sentir aquele vento no rosto, sentado na cadeira confortável, ao lado da janela. Para eles, puxar a cordinha é uma arte. Confesso que sou um deles. Não que o transporte coletivo não me irrite, pelo contrário, ele me irrita e muito. Mas certas coisas que a gente vê ou escuta acabam mudando nossa opinião, pelo menos por agora…

Primeiro foi aquela garota. Ela devia estar mascando chiclete ou algo do gênero. Falava com a mãe pela janela do ônibus. Dizia que iria encontrá-la por volta das 10 da noite, perto de seu curso, do outro lado da cidade. Era linda e devia ter seus 18 ou 19 anos. Estranha essa minha mania de me apaixonar por simples atos de todo mundo…

Depois aquele menino. Parecia ser pobre e devia ter seus 10 ou 11 aniversários. Ao passar por uma loja já enfeitada para o Natal, ele vê o “Papai Noel”. E faz um pedido, sem a mínima vergonha, aquela que aparentemente eu ou você teríamos. Ele pede, com a mais árdua vontade, um velocípede. Incrível como o sonho da infância nos faz pensar tanto em nossos sonhos de adulto…

Mais incrível ainda é saber que os sonhos de adulto também nos servem como lição!! Ele devia ter suas 36 ou 37 primaveras. Entoava um lindo salmo, logo pela manhã, bem no momento em que eu entrava no “buzão”. Depois de uns 5 km rodados pelo motorista, seu sonho de ser cantor fora explicitado pra todos que estavam naquele local. Contava sua história de luta, fé e força de vontade para quem quisesse ouvir. Hoje, depois de ter feito curso na Escola de Música do Maranhão, é cantor de uma igreja evangélica e ainda sonha em comprar outros equipamentos musicais. Sonhos que podemos ter…

É por isso, exatamente por isso, que a coletividade me fascina e me aterroriza; me seduz e me corrói; me maltrata e me perdoa. Tanta gente igual a você cercada pelo silêncio, sentadas sem trocar uma palavra sequer e quase sempre com pressa. Pessoas vendendo bombons em busca de um trocado pra tocar a vida. Gente cansada que daria tudo por, ao invés de cadeiras, camas espalhadas por aquele chão de alumínio friozinho e que todo mundo pisa. Pessoas que poderiam te salvar de qualquer coisa, mas não o fazem porque simplesmente não te conhecem (ou não quiseram conhecer).

Agora, quando sair de casa, saia pensando que você pode (e deve) aprender com os sonhos dos outros. Não saia de casa pensando que você vai pegar um ônibus só pra se estressar, sujar sua roupa ou ficar com uma alergia causada por fungos (como eu fiquei), devido à sujeira de um desses carros por aí. Bem mais incrível que tudo dito incrível nesse texto é imaginar que menos de um ano indo todo dia pra escola de ônibus me fizeram alguém melhor, apesar de tudo!!

Estranho mesmo seria se eu não sonhasse coletivo! Afinal, andar de ônibus é “indie”…

sábado, 15 de novembro de 2008

Segundo Ato – A Inútil Solidão

Definitivamente, o homem é sim uma ilha. Que me desculpe John Donne ou qualquer outro que defenda o contrário, mas a única coisa que me resta é discordar. Aquela simples ida ao cinema, naquele simples sábado, me fez perceber o quanto somos feitos de nós mesmos.

Não quero, contudo, dizer que todos ao meu redor simplesmente perderam a importância de uma hora pra outra, até mesmo porque não perderam. Naquele momento era o meu momento, o momento de me sentir só, uma solidão que, por sinal, machuca demais…

Namorar, ficar, curtir, enganar, me apaixonar, chorar, sofrer…, tudo isso eu já tentei e nada me fez parar de sentir o que os povos chamam de solidão. Talvez eu tente tudo isso de novo ao longo de minha vida, mas com um certo medo de errar mais uma vez e sempre com a esperança de parar de me sentir sozinho. Ops! Acabo de me contradizer.

Nenhum homem é uma ilha, meus caros. E não falo só de nós do sexo masculino. Até mesmo as mulheres, que tanto confundem nossas cabeças com suas investidas invertidas, também sofrem com esse isolamento. Todos nós necessitamos de um ombro amigo ou de um carinho enamorado. Nada nesse mundo consegue se firmar sozinho, é sempre alguém aprendendo e sempre alguém ensinando, sempre alguém sorrindo e sempre alguém chorando, é a eterna troca pela qual cada um de nós, inevitavelmente, vai ter que viver um dia.

Vou tentar parar de me sentir sozinho. Vou procurar tudo de bom que há em mim mesmo e aproveitar cada vez mais o que essa vida complicada tem pra me oferecer. Sorrir mais, amar mais, viver mais, de uma maneira saudável e cheia de possibilidades. Gozar do meu último mês com 16 anos de idade e partir pras responsabilidades dos 17. Idade de adolescente e mente de gente grande…

A vocês, dessa vez, não um exímio sorriso, mas a inútil constatação de que amar, amar é desnecessariamente necessário:

Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

John Donne

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Primeiro Ato – A Doce Brisa

Ela nem parece que é de verdade. Deve ser mais uma ilusão dessa minha cabeça que vive inventando amores e desamores inalcançáveis. Ela pode ser tudo, pode ser vento, pode ser tempestade, pode ser Brisa… Pode ser o que ela quiser, basta querer. Hoje, ela é inspiração!!

Ela ouve Belinda, ela ouve Rihanna. Ela assiste a Grey, ela odeia a Montanna. Só não é capaz de guardar qualquer coisa em um lugar que ela possa lembrar depois (até hoje espero minha caneta, viu).

Ela me machuca, confesso. Tem um discurso meio diferente do normal. Chegou ao cúmulo de dizer que jamais andaria de mãos dadas com um garoto e, um dia depois, passeava em polvorosa com um deles feito aquelas mães hiper-cuidadosas com seu pimpolho do lado. Não que eu esteja com ciúmes, jamais! Ela devia ter sorte de ter alguém que a lembre de parar de cantar “See a Little Light”.

Ela é estranha. Mas é bonita (pelo menos eu a acho bonita e é isso o que mais me importa agora). Vive colocando defeitos nas minhas namoradas, mais bonitas do que ela… Tem uma ironia fina digna dessas obras machadianas (a única comparação de ironia que tenho no momento). Costuma chamar todo mundo de “meu filho” e o único que admira isso sou eu. Parece que ninguém liga, ninguém guarda o que ela diz. Eu tomei a função de “guardador” dos momentos mágicos que ela vive perto de mim.

Ela é amiga. Me salva das tonturas e ânsias da vida moderna, literalmente. Tem uma voz que todo mundo acha chata, mas que eu bem que gosto! Tem a qualidade primordial que toda mulher deveria ter: inteligência. Pode entrar em transe hipnótica algumas vezes por certos professores de Sociologia, mas que sabe mais do que qualquer um a biologia da vida, ah, isso sabe! Sem falar na Língua Inglesa que ela jura que sabe falar…

Ela tem estilo. Ou… que menina do jeito dela vai pro shopping de calça jeans e havaianas?! Ela é simples. Ama andar de ônibus – palavras dela própria – e parece patricinha. É simples, mas totalmente complexa. Diz enjoar de alguns amores em menos de 3 meses. Balela? Me imaginando no lugar dela eu não diria nem meses, semanas já bastavam.

Falar de tudo o que ela é e de tudo o que ela costuma ser pode render infinitas linhas nesse rumo da vida. Prefiro garantir todas essas linhas organizadas em minha cabeça. A vocês deixo, pelo menos, seu exímio sorriso…

Brisa