quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma? Que diploma?

Agora é lei. Qualquer pessoa que souber dominar a língua portuguesa e quiser emitir algum tipo de informação já é considerada, de fato e direito, jornalista. Acabaram-se anos de formação, estágios em grandes redes de comunicação e, principalmente, a obrigatoriedade do diploma. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que votou contrariamente à exigência do diploma, alega que a Constituição de 1988 e a grande disseminação de blogs pela internet contribuíram fortemente para a derrubada do decreto-lei 972/69, que exigia tal requisito.
 
Mas, na realidade, qual a função de um jornalista? Seria simplesmente organizar suas ideias e repassar informação ou existe algo além disso? Bem, tudo não passa de ponto de vista. Ser jornalista é ter a notícia correndo nas veias; é poder transmitir com imparcialidade um fato, ação corriqueira ou até mesmo algo extraordinário; é saber organizar as palavras, construir argumentos e fazer com que o leitor/ouvinte seja consumido diariamente por novas possibilidades. E olha que nem jornalista eu sou…
 
E como é ponto de vista, fica claro e evidente que ser jornalista também é poder divulgar sua opinião por aí e respeitar a Constituição no que se diz respeito à “liberdade de expressão”. E quantos bons jornalistas, realmente, não estão escondidos Brasil afora? E quantos bons poetas, músicos, jogadores, escritores, artistas… É nesse ponto que o ministro, e todos aqueles que o acompanharam na votação, estão certos.
 
O problema é que parar de exigir diploma é uma afronta principalmente para os estudantes que ralam durante uma vida escolar inteira galgando estabilidade profissional. É um paradoxo. Ou isso ou sair do Terceirão, abrir uma conta no blogspot e ir publicando o que lhe der na telha. Somos imediatistas. Nossos representantes só dão conta da bomba que jogam na população depois que ela estoura. Falta diálogo, falta ouvir mais e fazer menos besteira.
 
E se você pensa que só jornalistas vão sofrer com a decisão suprema do Supremo Tribunal Federal, é melhor rever seus conceitos. O próprio Gilmar já admitiu que outras profissões também sofrerão revogação da exigência do diploma muito em breve. Provavelmente, pra ser médico, você só precisará pegar a tesoura de costura de sua mãe escondida naquela gaveta de madeira, ir de encontro a um paciente qualquer em um desses hospitais públicos sucateados e operá-lo, sem anestesia mesmo, no próprio corredor. Acredito até que seria bem melhor que deixá-lo morrer…
 
E quanto aos blogs, poderíamos estar dando pulos de alegria por aqui porque já teríamos emprego garantido em uma Globo, Record ou CNN da vida… Mas não é bem assim. A esperança em um país mais crítico é o que nos faz estarmos aqui escrevendo e emitindo opinião todos os dias. E se eles não se importam com o que pensa a população, eu pelo menos me importo.

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8 comentários:

  1. Boom, eu também me importo ! foi-se o meu sonho de fazer jornalismo ou publicidade na faculdade.
    Okeey você quer ser um jornalista?! ja que nao se precisa mais de um diploma , vc tem as qualidades de um jornalista, certo?! ASIHAOIHOAIH'

    se animaar passa la
    http://confessominhanormalidade.blogspot.com

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  2. E como sempre fazem os "supremos":
    Estou pouco me lixando para opinião púbkica...

    Essa é a resposta aos anseios da sociedade que submete-se (ou é submetida) aos desmandos de umas 2 ou 3 dúzias de incompetentes!

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  3. olha, pelo q entendi da noticia, o diploma não foi abolido, mas sim preterido.. ainda se pode estudar jornalismo.. fazer a faculdade é, sem sombra de dúvida, pré requisito(ou pré-requisito ou qualquer outra coisa q não me lembro)para se dar bem na profissão. o sonho não acabou... nem foi diminuido. eu não deixarei de fazer o curso.

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  4. Isso é verdade, Clarissa. O diploma apenas deixa de ser exigido, o que justamente é debatido no texto.
    O grande problema é saber se a credibilidade das notícias será a mesma de uma mídia séria e formada somente para o exercício dessa profissão.

    Só nos resta aguardar. E não, jamais desista do sonho de ser jornalista. Faz bem pra você e faz bem para o Brasil sério de amanhã.

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  5. não acho que o Bóris Casoy, o Sardenberg, a Lúcia Hipólito, só pra citar três, teriam mais credibilidade se tivessem um diploma de jornalismo... acho sim que a profissão tem que ser regulamentada, e por esse mesmo motivo acho um grande equívoco a obrigatoriedade do diploma para todas as funções do que se considera jornalismo (lembrando que entretenimento e fofoca nesse país tbm são chamados de jornalismo).
    vamos supor um quadro sobre economia num telejornal (poderia ser em outro veículo tbm). quem seria mais gabaritado pra comandar, um jornalista ou um economista? aí podem me dizer que o jornalista para essa área teria uma especialização e blá blá blá. mas eu não vejo problema em ver um economista numa coluna de economia, uma escritora publicando uma crônica na revista semanal, um produtor musical com um quadro sobre música, um professor comandando um programa de rádio, etc.
    não acredito que isso desvalorize o diploma universitário ou os técnico e tecnólogo de jornalismo. o que desvaloriza o diploma é o MEC credenciar qq faculdade, o que contribui para a formação de péssimos profissionais (e isso nas mais diversas áreas).
    tbm não acredito que instituições que tenham algum compromisso com a ética passarão a contratar qq um para sua equipe de jornalismo.
    enfim, já escrevi demais, sou prolixa às vezes. a palavra chave não é obrigatoriedade, mas regulamentação (colocar as coisas em ordem, dizendo quem pode fazer o que).

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  6. Mademoiselle

    É um grande paradoxo mesmo. São várias opiniões que se encaixam perfeitamente. Por exemplo, há tantos profissionais bons por aí que dominam uma área, como você falou, que simplesmente não têm oportunidade de aparecer porque não são jornalistas. Isso é fato. Grandes instituições de comunicação só vão contratar quem realmente presta um bom serviço, transmite uma boa informação. A palavra chave de fato é a regulamentação, porém com a prudência de tomar decisões com um conhecimento e discussão mais amplos por parte da sociedade - e não como várias são tomadas todos os dias.

    E nem escreveu demais. É bom quando alguém faz parte da sociedade crítica desse país.

    Beijos

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  7. Fui de Miniempresário à Jornalista de Sábado pra Segunda!
    O Brasil é Meu País Preferido Por Isso!
    Em nenhum outro país você vai ter:
    Um Presidente dizendo que a crise é só um marolinha!
    Uma música de sucesso chamada Créu!
    E um canal brasileiro que só trasmitia novelas mexicanas!

    Acesse:
    http://idjay-c.blogspot.com/

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  8. Este é parte de um texto que li com qual concordo plenamente.

    "REGULAMENTAÇÃO – Ao contrário do que muitos defensores da extinção da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo apregoam, a defesa não é por reserva de mercado, mas sim por um padrão mínimo de qualidade de quem trabalha para as notícias chegarem às nossas casas. No mundo extremamente complexo em que vivemos, entender a comunicação como fenômeno (e não meramente como técnica) é fundamental para quem se propõe a trabalhar, cotidianamente, com ela. Jornalismo é muito mais que escrever “com arte” (isso era do tempo de João do Rio ou João Lisboa!). E isso, essa capacidade de análise, quem dá é a universidade – além da técnica, é claro!" Marcos Matos

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