sexta-feira, 26 de março de 2010

Minha alma ultrapassada

Hora de arrumar as gavetas. Tantos papéis velhos, tanta anotação, tanta coisa do tempo do ronca. Às vezes me pergunto por que sou tão apegado às coisas antigas, principalmente àquelas que parecem não ter mais valor algum. Algumas pessoas dizem que eu tenho alma de velho. Mas será que os senis são os únicos a guardar tanta bugiganga? Será que eu, mesmo com toda essa minha veia moderna, com esse discurso atual e essa forma de viver pautada nos preceitos do século XXI, não posso ter o direito de guardar algumas relíquias? Será?!

Hora de arrumar os pensamentos. Sinto-me velho não somente na condição de colecionador de coisas velhas. Sinto-me velho por causa de certas atitudes, certas ideias fixas, senso comum, medo de aventuras modernas. Mas nunca tive medo de blogar, orkutar, twittar ou qualquer outra ação que inclua um verbo ciberneticamente novo. Mas tenho medo de voar, sair domingo à tarde, fazer rappel, aceitar a morte. Tal qual um velho.

Engana-se, porém, quem achar que eu não goste de ser assim. Ser chato e rabugento tem lá suas vantagens, apesar das desvantagens serem mais visíveis. Você discorda mais, garante opiniões formadas, defende teses há muito firmes e sólidas. Mas se restringe, se limita. E isso é ruim. A falta de mobilidade e liberdade é inerente a um idoso, daí tal comparação cair como uma luva. E tem gente por aí com medo dessa falta chegar.

Gostar dos Beatles, Jhonny Cash, Elvis, Michael, Celine Dion, Cindy Lauper, Bezerra da Silva, Zeca Pagodinho ou qualquer outro artista que não faça parte dos primeiros lugares das rádios atuais não quer dizer que você tenha alma de velho. Repudiar tatuagens, piercings, emos, rockeiros ou góticos não quer dizer que seu pensamento está preso ao passado das anáguas e sobretudos. Basta tolerar.A opinião é sua, o preconceito é seu. A tolerância também é.

Feliz daquele que tem a sabedoria de um idoso. Sabe mais, conhece mais, protege mais, age mais. Não que eu não goste da atualidade, longe de mim! Adoro o novo, apesar do receio que ele sempre traz. A questão é que eu adoro uma boa história de velho. História essa que geralmente sai da mesma boca que os netos dizem que fede. Netos burros, esses.

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Um comentário:

  1. Um padre me disse a mesma coisa, só que não com essas palavras! :)
    Evoluindo & Aprendendo com Marcos Lima [...]

    http://cliqueruim.blogspot.com/

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