sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Contos de Whisky V

- O último a sair, apague a luz do aeroporto!

Que lugar era aquele? Centenas de pessoas desoladas, ansiosas por mudança, temerosas pelo futuro. O que fazer depois desse fatídico dia? Como prosseguir se a incerteza era a única certeza a partir de agora? Júlio César não sabia direito. Seu candidato acabara de perder a chance de mudar a história daquela cidade, marcada pela fome, desigualdade e pelo mesmo grupo político no poder. Anos e anos tentando mudar a situação e nada de novo acontecia. Democracia burra, essa.

Que lugar era aquele? Milhares de pessoas reunidas em uma praça, sorriso nos rostos, pulos e gritos desvairados, bandeiras multicoloridas. A noite seria pequena pra tanta comemoração. Eis a vontade do povo. Confesso que não consegui entender dois opostos tão opostos assim. Esse jogo do ganhar ou perder, onde tudo, invariavelmente, termina em festa. Isso mesmo: festa. A oposição entre a festa da vitória e a festa da decepção, comemorada de outra forma, bem mais fúnebre, mas ainda festa. E o que dizer de toda aquela bebida, em todos os lugares? Era bem ali que eu deveria passar a noite.

Júlio César afogou seu voto em um vinho barato que guardava desde o Natal de 2000. Augusto, Aurélio e Otávio beberam champanhe, uísque, cerveja importada e todo o álcool que o dinheiro da vitória poderia pagar. Enquanto isso, os outros dormiam. A Segunda já iria começar e, aparentemente, nada estaria diferente. A não ser pela sujeira deixada nas ruas da democracia. Ou seria oligarquia?

A queixa parecia antiga, e o que vi por lá parecia ambíguo. Uma cidade gloriosa na televisão e cinza na vida real. Bela, mas apagada, cheia de problemas, com poucas soluções. Pessoas admiráveis, sofridas, bonitas e esperançosas. Sobre os políticos, era difícil admitir, mas já estavam cansados. Cansados de tanto dinheiro, de tantos ataques e de tantas promessas não cumpridas por eles mesmos. Era comum ouvir o nome do fundador do tal grupo político em rodas de conversa. Defesa sem embasamento, ataque com fundamentos e um ódio colossal no coração. Um ciclo cansativo e que não adiantava de nada pelo visto.

Arrumei minhas malas, recusei algumas doses da eleição e segui em busca de novas histórias. Menos traumatizantes, mas que mostrassem o melhor e o pior de um mesmo mundo, seja lá qual ele for.

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