quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Métodos Marckosianos (5)

Eu fui tanta coisa em 2010. Filho, namorado, amigo, “tio”, escritor, leitor, ouvinte, estudante, viajante, apaixonado, atento, observador, paciente, impaciente, ansioso, sonhador, apaziguador, criador, cidadão, trabalhador, pensador, criança, adulto, adolescente, benevolente, esperto, carinhoso, zangado, firme, otimista, pessimista, realista, questionador, orgulhoso, fã, ídolo, medroso, corajoso. Eu fui além de mim.

Conheci pessoas maravilhosas e cultivei as amizades certas, na hora certa. Algumas deixei pra trás, por entender que não poderiam somar mais nada pra mim. Outras adaptei ao meu novo estilo de vida, dando a devida atenção que sempre mereceram. Surpreendi-me com a maneira como novos amigos surgiram e como mesmo eles, tão novos em minha vida, foram tão fundamentais nos momentos difíceis. Guardei segredos, fiz confissões, desabafos, ouvi zilhões de conselhos. Cresci.

Dei amor a todos. Namorada, mãe, amigos, conhecidos, desconhecidos, do mais simples morador de rua a mais sofisticada empresária do ramo de roupas. Soube reconhecer meus erros, livrar-me de alguns defeitos, amadurecer enquanto pessoa... Eu sorri. Fiz muita gente sorrir, dei abraços, beijos, condolências, pêsames, felicitações, parabéns. Fui apenas eu mesmo, mesmo que isso despertasse algum incômodo em alguém.

Livrei-me de muitos fantasmas. Errei bastante, mas soube consertar a maioria desses erros a tempo. Trabalhei, namorei, comprei algumas muitas coisas, passei dos meus limites. Ganhei apelidos, fiz planos, concretizei a maioria desses planos, fiz mais planos. Assisti dezenas de filmes, ouvi uma porção de músicas, li um bocado de coisas, aprendi outro bocado de coisas. Conheci lugares maravilhosos. Vesti terno e gravata. Saí de minha terra natal. Andei de trem, tirei fotos, escrevi poemas, tive ideias mirabolantes, vivi momentos inesquecíveis.

Mas confesso que ainda preciso mudar muito, retirar doses gigantes de defeitos em mim. Controlar alguns hábitos, refazer algumas rotinas, perder alguns vários medos. Ir além do que posso ser capaz. Colher frutos de uma mudança necessária e que essa colheita seja percebida, antes de tudo, por mim mesmo. Eu preciso crescer! Como pessoa, amigo, filho, namorado, estudante...

Desejo que em 2011 eu possa olhar pra trás e poder repetir cada gesto, cada atitude, cada momento e transformar esse novo ano em outro 2010, com mais responsabilidades, sonhos, virtudes e realizações. Conhecer mais gente, dividir minhas aspirações com eles e poder realizá-las, nas horas e momentos ideais. E dizer, mais uma vez, que eu fui tanta coisa nesse novo ano, mas principalmente, que eu fui feliz!


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Top 10 - Músicas Animadas

Fim de ano chegando e sempre aquelas mesmas músicas ecoando pelos supermercados, lojas de departamento e centros comerciais do país. Pra você que já está cansado de tanto ouvir harpas, Simone e Ivan Lins cantando por todo lugar, o Senhor do Tempo preparou uma lista de músicas animadinhas pra essa época festiva. Prontos para o play?

1. Magic – B.o.B feat. Rivers Cuomo
O tipo de música perfeita pra ouvir no carro enquanto você se desloca às compras. Animadinha, dá pra tirar o stress dos congestionamentos das grandes cidades, sem falar que é a cara daqueles momentos felizes de filmes americanos. Boa pedida pra quem curte as já conhecidas “Airplanes” e “Nothin’ On You” do rapper e produtor musical B.o.B.

2. Sink or Swink – Bad Lieutenant
Pra quem gosta de rock alternativo e quer um som novo pra animar suas festas de fim de ano, nada melhor do que conhecer essa banda herdeira da extinta New Order. Com um som envolvente e que muito lembra os anos 80, ela promete arrancar bons comentários de seus convidados. Vai por mim!

3. Was It Something I Said? – Brandon Flowers
Gosta do The Killers? Então que tal conhecer a carreira solo de Brandon Flowers, vocalista da banda? Em seu mais novo cd, Flamingo (Mercury Music, 2010), um som bem parecido com o da já conhecida banda de rock pode ser ouvido em todas as faixas. A mais animadinha acaba sendo a citada acima, mas vale a pena ouvir todo o cd na noite de Natal ou Réveillon.

4. Who Says You Can't Go Home – Bon Jovi
Bon Jovi é o tipo de banda que sempre deve tocar em uma boa festa. Seja no momento mais romântico, no mais ‘porra loca’ ou na parte divertida em que todo mundo já está mais pra lá do que pra cá. “Who Says You Can’t Go Home” e seu ‘it’s alright’ consegue transmitir essa alegria e fazer todo mundo cantar, a qualquer hora e em qualquer lugar.

5. Girls Just Want to Have Fun – Cyndi Lauper
Quantas vezes eu não fui dormir na noite de Natal ouvindo Cyndi Lauper e sua “Girls Just Want to Have Fun” ecoando na casa da vizinha. Uma música que consegue expressar bem a alegria que era viver durante os anos 80, refletindo esse espírito de diversão até os dias de hoje. Boa pedida pra qualquer festa, seja de fim de ano ou não.

6. Learn To Fly – Foo Fighters
Que tal em suas resoluções de ano novo você incluir “aprender a voar”? O Foo Fighters e uma de suas músicas mais animadas prometem fazer você viajar ouvindo um som que todo bom fã da banda conhece e que todo mundo que ouve quer ouvir de novo. Dica esperta: o clipe, como boa parte dos da banda, é uma comédia!

7. Quando Um Homem Tem Uma Mangueira no Quintal – Vanessa da Mata
Quem disse que a música brasileira também não entra em nosso Top 10? “Quando Um Homem Tem Uma Mangueira no Quintal”, samba cantado por uma das mulheres mais talentosas da MPB, promete animar sua noite de final de ano, fazendo até sua avó de 80 anos remexer os quadris. Vale a pena ouvir mais da Vanessa da Mata. Muito mais!

8. Fireflies – Owl City
Alegre por sua simplicidade, sem falar nas batidinhas eletrônicas que tornam a música muito mais agradável. Assim pode-se definir “Fireflies” do Owl City, uma música que com certeza você já deve ter ouvido por aí. Perfeita pra ser tocada antes do fim da festa – nem que seja no outro dia de manhã.

9. Hey Ya – Outkast
Uma das músicas mais animadas que eu conheço. A dupla, formada por Andre 3000 e Antwan Patton e que anda sumida da mídia, fez sucesso em 2004 com esse hit que até hoje é considerado dançante e vibrante. Perfeita pra embalar qualquer festa, “Hey Ya” esbanja alegria e é, com certeza, a música ideal pra fazer qualquer pessoa dançar.

10. I Gotta Feeling – The Black Eyed Peas
Em 2009, minhas noites de sexta sempre eram embaladas por essa música. E aproveitando que as noites de Natal e Ano Novo desse ano também cairão em uma sexta-feira, que tal deixar “I Gotta Feeling” no player, chamar a galera e curtir esse som até o feriado raiar? Com certeza, além de boas músicas, sua festa vai ser inesquecível.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mulheres e sapatos

Calçados ortopédicos eram a sensação aos 2 anos de idade. Ajeitar aqueles pezinhos tortos, fofos e desengonçados. A mãe andava feito louca pelas lojas infantis da cidade em busca do melhor modelo para sua pequena bebê. Chegava satisfeita, colocava na criança um vestidinho branco, uma meia rosa, o sapato recém-comprado e saía. Era seu troféu, sua preciosidade, frágil e linda.

Aos 10, só queria saber de botas. Não botas quaisquer; botas da moda. Calçados de sua personagem favorita da televisão. Uma bota cano longo, preta, com desenhos em relevo branco da boneca japonesa que invadia as casas de milhões de crianças todos os dias de manhã. Não era do gosto da mãe, mas fazia o gosto da filha. Satisfeita, a pré-adolescente ia ao cinema com as amigas mostrar a nova bota e tomar sorvete sem a mãe.

A debutante queria um salto que combinasse com aquele vestido rosa. Não podia ser um salto rosa – brega demais. Um prateado, algo de festa, que nenhuma amiga invejosa tivesse igual. A mãe saiu feito louca pelas lojas da cidade. Gostava de muitos, mas a filha de nenhum. O salto perfeito estava na loja mais cara do shopping e à mãe coube pagar. Para a garota, o cartão de crédito era um troféu, uma preciosidade, frágil e lindo.

Egressa de Direito, precisava de scarpins. Sapatos chiques, que demonstrassem seu poder perante a sociedade e naquela sala da faculdade particular. Jogou fora muitos saltos de festa, alguns deu pra mãe, outros doou pra filha da empregada. Conheceu seu futuro marido, que a presenteou com um lindo sapato chique. O papel de compradora de sapatos da mãe havia sido substituído.

Ficou grávida. A mãe viraria avó. A filha viraria mãe de uma linda menina. Em seu enxoval, a nova filha ganharia dezenas de coisas – vestidos, meias e, com certeza, sapatos. Sapatinhos fofos, ortopédicos, brancos... A nova mãe, vaidosa, não queria saber de andar por aí grávida e sem seus sapatos. O marido, dono de uma loja de sapatos, logo resolveu o problema. Deu um par de chinelos à esposa e disse:

- Ande, vá ser humilde. Pare de cobrir seus lindos pés com esse horror de sapatos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Vida de inseto

Escrevo coagido por essas tais formigas. Não, amigos; não são formigas quaisquer. São formigas mutantes. Isso mesmo: mutantes. Digo isso porque não sei de onde elas vieram, pra onde vão e por que têm asas. E pensar que até anteontem eu nem imaginava que estaria escrevendo um texto sobre esses insetos estranhos. E pior: rodeado por um bocado deles.

Mas deixe-me explicar. Tudo começou no domingo. Um dia normal se não fosse o fato de finalmente São Pedro ter percebido que São Luís precisava de chuva. Acordei às 11, almocei e fui ler. Um conto de Ítalo Calvino datado de 1952 que falava sobre o massacre que uma jovem família sofrera ao ter convivido com formigas-argentinas durante algum tempo. Sim, elas, as formigas, que mais tarde tanto me atormentariam e até renderiam tal crônica. Lá fora, o céu ia escurecendo e logo tratei de largar o livro e ir admirar aquele tempo nublado, já tão raro por aqui.

A chuva logo veio. E com ela alguns transtornos típicos da vida moderna, como goteiras em casa e alagamentos pela cidade. O temporal diminuiu, e então percebi que havia algo de errado com a televisão. Não, não era o sinal que havia ficado ruim graças ao dilúvio. Eram as formigas. Dominavam a tela como se fossem artistas de reality show, quase um Big Brother com anteninhas - e asas. Fiquei indignado. Precisava eliminá-las. Elas perturbavam. Peguei o jornal e tratei de espantá-las.

Muito esforço pra nada. A luz da sala estava apagada e o único sinal de iluminação vinha da TV. Pronto, havia descoberto qual o alimento desses seres. Criei até uma teoria para tentar adivinhar de onde vinham as tais bichinhas: de dentro da televisão, sempre quentinha. É lógico; agora, com o inverno, elas saem em busca de algo quente e a luz, com sua energia térmica, bem que poderia ajudar. Até hoje acredito em minha singela explicação. Biólogos, me ajudem, por gentileza.

Mais tarde, fui expulso do computador porque a cada formiga morta, devido a sua insistência em grudar na tela, vinha outra se vingar da companheira. E por mais que eu a matasse, mais forte ela ficava, levantando voo logo em seguida - mutante! Só me restou apagar todas as luzes e ir dormir, na tentativa esperançosa de que aquelas indivíduas me deixassem em paz e não entrassem em meu ouvido - como fizeram as formigas-argentinas com um personagem do conto de Calvino.

Infelizmente, elas voltaram. Agora estão por toda parte. Em menor número, mas por toda parte. Ficam nos encarando, paradas, como se quisessem nos atacar ou simplesmente conversar. Contar o quanto é bom lá nos circuitos da televisão e o quanto é perigoso aqui, do lado de fora. São seres vivos, que se arriscam ao sair do quentinho de seus lares em busca de aventura. E eu me sinto como o carrasco, como a vida, sempre pronta pra cortar nossas asas e dizer pra seguirmos em frente, sem nosso conforto original. Mas a gente volta. Felizmente, a gente volta. E vamos pra toda parte. Em maior número e por toda parte.