segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vivendo ciclos

E saiu dali com os olhos cheios d’água.

Era agora desprezada pela única pessoa que confiava, o único afeto que tinha no mundo, a única boa lembrança de tempos difíceis. Quem seria agora aquela garota além de nada? Quem a levaria pra casa nas noites de terça-feira, quando o que mais queria era uma cama depois de um longo e cansativo dia de trabalho? Quem era aquela garota? Quem era aquele garoto?

Aquele garoto sensível, bonito e inteligente. Aquele cara digno de orgulho e compreensão. Por que fizera isso com ela? O que passou na cabeça dele ao fazer aquilo? Quem seriam os dois, além de nada?

Ela sabe que ciclos existem, mas nunca quis acreditar que esse chegaria ao fim. Ele entendeu tudo errado quando ela disse “I Want To Break Free” imitando os passos do clipe do Queen. Talvez já não gostasse dela como deveria. Ou talvez não.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Antes da alvorada voraz

Desperto o desejo louco de poder te amar
A tua boca na minha tamanha 4 da manhã
Não ouço nada além do som da madrugada e do teu beijo sofrido
Ávido, teus lábios dormentes a me atormentar

Vai, vai-te embora em busca de vida
Eu não posso e nem quero ser esse aí, das tuas fotos, do teu álbum de recordações
Mas só faço um pedido: fica por perto.
Não fede nem cheira. Só fica por perto.
Talvez eu mude de ideia e possa voltar a dormir tranquilo
Tamanha 4 da manhã.

Marcos Lima

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eu e as despedidas

Eu nunca gostei de despedidas. Nunca gostei de ter que dar adeus às pessoas que amo, deixá-las passar, mesmo que para seguir seus próprios caminhos – sem mim. Já sofri um bocado com isso, fosse de véspera ou depois do acontecido. Chorei, esperneei, tentei achar mil maneiras de não deixá-las ir, mas foi inevitável. Começou, teve seu meio, teve seu fim. Mas não acabou de verdade. Essas despedidas foram reversíveis. E cá entre nós, elas são bem melhores!

Nunca gostei – nem nunca vou gostar – das despedidas de verdade, dessas que você jamais vai ver a pessoa de novo. Encarar a morte como o fim mais traiçoeiro ainda me é difícil. Como da vez que chorei desgarrado pelo meu padrinho que ia viajar pra outro estado e não entendi o porquê. Anos depois, sem nunca mais tê-lo visto, ele faleceu. E como foi complicado, mesmo entendendo, depois de tanto tempo, o real motivo daquele choro. Mas a vida passa, você se apega às pessoas e elas vão dizendo ‘tchau’ o tempo todo. Cabe a você aceitar – ou tentar que seja diferente.

É importante ressaltar que eu também dei diversos ‘tchaus’ por aí. Deixei várias pessoas que eu julgava importantes ao léu, querendo notícias, implorando contato. Saí de relacionamentos tomado pela indiferença, pela imaturidade, pelo gostar demais ou pelo gostar de menos. Mas também larguei alguns com a certeza de que era aquilo que devia ser feito. Mais cedo ou mais tarde eu deveria me despedir, deixando a garantia de que voltarei pra resolver qualquer mal-entendido mal explicado.

A gente sempre volta. Se não é por querer, por pura força de vontade, a vida se encarrega disso. Seu ex-amigo aparece na fila do supermercado depois de 10 anos e você sente vontade de falar com ele. Sua ex-namorada surge linda e loira com um belo rapaz de olhos azuis e você sente inveja por não estar ali, com ela. Seu ex-chefe agora é subordinado em sua própria empresa. O mundo dá voltas – e você sempre espera que essas voltas sejam em seu mundo.

Despeço-me de você, leitor, com uma certeza: esse não é o fim. Um novo ciclo está sempre começando em nossas vidas e as despedidas só encerram com chave de ouro esse momento. Talvez hoje não consigamos entender o quão bom pode ser o fim de alguma coisa, mas mais tarde, com certeza, iremos conseguir. Olhar pra trás e dizer pra si mesmo que aquilo era o certo a fazer, o mais prudente. E ir seguindo cada despedida, em busca de novos começos e de surpresas planejadas pelo inesperado. Vai ser sempre assim. E eu quero que seja sempre assim!