domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre pessoas e baladas

Talvez eu seja uma das únicas pessoas no mundo a parar no meio da balada e começar uma análise antropológica dos indivíduos que ali estão. Não sei se o que me motiva a fazer isso são as doses de álcool que insisto em tomar a cada ida nesses ambientes ou a pura vontade de entender melhor o ser humano que me cerca. Vocês poderão dizer: “que bobagem, esquece isso e vai dançar”, mas eu não sei dançar. Nem sei ao certo por que ainda vou pra balada.

Antes de compartilhar algumas dessas minhas observações com vocês, gostaria de responder a um questionamento feito por uma amiga tempos atrás sobre o que era melhor: ir sozinho ou acompanhado para as festas. Imediatamente – isso logo depois de terminar um namoro – respondi que era melhor ir sozinho, até porque desacompanhado você tem chance de exercitar seu lado conquistador, de partir para o ataque – coisa que não precisa mais fazer quando já tem uma namorada. Entretanto, depois de algumas baladas na condição de solteiro, descobri que sou um fracasso na arte de conquistar pessoalmente.

Já me ensinaram milhões de formas diferentes pra “estabelecer conexão” com uma menina durante essas festas, mas eu simplesmente não consigo colocá-las em prática.  Sou mil vezes melhor na conquista cibernética, onde a abordagem se faz adicionando a pessoa – sem que você veja a reação dela durante o “flerte”. Isso significa dizer que ir acompanhado, seja com sua namorada ou ficante, torna as coisas bem melhores pra alguém tipo eu. Mas ir com os amigos ainda é bem mais divertido.

Voltando às considerações iniciais, e as meninas, como se comportam na balada? Nos lugares aonde vou, é quase unânime: um grupo de amigas que se reúnem pra beber e dançar sem necessariamente querer um homem por perto. Salto alto, maquiagem forte, vestido curto ou calça colada. Um estilo feito pra chamar a atenção de quem elas simplesmente ignoram. Poucos são os relacionamentos que dão certo a partir de uma festa nesses moldes. É tudo frívolo, sem sentido, egoisticamente ébrio. Ah, existem exceções!

Os homens partem para o ataque. Aproximam-se, falam qualquer coisa, beijam e pronto. Saem novamente em busca de mais vestidos curtos e comida para seus olhos famintos de desejo. Mais uma dose de cerveja cara (porque nesses ambientes nunca dá pra usar a ideia do “gole de cerveja barata”), outra olhada correspondida e bingo. É assim a noite toda. A balada transformou-se em uma selva onde vence o mais despojado, o mais bem vestido e o mais cafajeste.

Os casais de namorados se desentendem, quase sempre por causa de uma olhadela descompromissada do rapaz para aquela menina de 16 anos que entrou no local com a carteira de identidade falsa. As mulheres reclamam porque as mãos dos rapazes passeiam por seus corpos como carros em asfalto novo. Como se elas não tivessem metade da culpa ao usarem panos tão minúsculos que decerto não encobrem suas vergonhas. Quem não dança, fica olhando quem sabe dançar. Quem sabe dançar, fica procurando quem o veja dançar. Uma guerra de egos em meio a luzes intermitentes.

No final da festa, a casa vai ficando vazia. É a hora do tudo ou nada, do agora ou nunca. Os últimos solteiros sobram e tentam fazer xeque mate nesse xadrez noturno, onde a única intenção é honrar sua própria moral, abalada por até agora não ter conseguido um beijinho sequer. Isso porque eu nem falei dos funcionários cansados e sonolentos que se escandalizam com beijos triplos e vômitos sucessivos enquanto tentam tirar garrafas de cerveja do chão. “No meu tempo não era assim”, condenam com olhares reprovadores.

No mais, prefiro sair e ver com meus próprios olhos cada uma dessas relações repletas de necessidade de autoafirmação, tentativa de suprir carência ou simples desligamento programado do mundo. A qualquer momento, quando eu decidir – e aprender – me tornar um deles, mudo de opinião quanto a ir sozinho ou acompanhado nesses ambientes. Por enquanto, só quero dançar mesmo sem saber, olhar pra elas sem perguntar seus nomes e admirar cada pessoa que escolheu estar ali pelo mesmo motivo: ser feliz efemeramente!

A vida é chata, mas ser plateia é pior...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Qual a credibilidade do palhaço?


Por muito tempo me vi preso à incerteza de abandonar ou não a besteira. Explico: abandonar a besteira, em termos práticos – e para o meu grupo de amigos –, significa deixar de lado piadinhas bobas, comparações absurdas e sacadas espertas (ou idiotas, sabe-se lá) a qualquer momento. Eu bem que tentei, mas é mais forte que eu. Quem me conhece pessoalmente diz ser impossível me encarar sem ter vontade de rir. Recentemente, ao apresentar um trabalho na faculdade, um amigo jurava que eu iria parar a exposição e começar a imitar a Marília Gabriela – coisa que você confere no final desse texto.

Minha descrição no Twitter exemplifica bem esse bom humor. “Blogueiro, universitário, imitador e menino da xerox. Posso anotar seu pedido?!” Uma clara brincadeira entre as quatro ocupações principais de minha vida atualmente: escrever, estudar, fazer rir e trabalhar. Outro amigo até já fala em patrocinar meu stand-up comedy. Como se alguém fosse assisti-lo! O engraçado nisso tudo é que quando algo realmente sério me acomete, fica difícil imaginar qual seria minha reação até pra mim mesmo. E nas relações amorosas, onde ponderar às vezes é fundamental, essa incerteza ganha proporções colossais. O que fazer então?

Já tentei dosar entre a sobriedade humorística e o bom humor desmedido. Não sei se deu muito certo. A única reclamação que tive nesse aspecto foi em 2009 (e lá se vão dois anos), quando uma namorada reclamou que era impossível conversar comigo porque eu levava tudo na molecagem. De fato, era demasiado. Aprendi com o tempo que querer chamar atenção não nos leva a lugar algum. É bem melhor quando você sente que pode se tornar atração, quando aquele momento e as pessoas ao redor (seu potencial público) o admitem como digno de atenção. Não dá pra forçar. Pode demorar mil anos, mas se você tiver talento pra alguma coisa, seu reconhecimento virá da forma mais inesperada possível.

Acontece mais ou menos assim com o pessoal do circo, artistas de TV ou profissionais de qualquer área. Sua credibilidade é construída com o tempo e cabe a você mantê-la o mais sólida possível. Mas e quanto ao palhaço? Qual credibilidade esse ser  – que se esconde através de uma pintura e um nariz vermelho em formato de bola – pode transmitir à sociedade? Fazer alguém sorrir é suficiente para transmitir a ideia de um profissional sério naquilo que faz? Acredito que sim. Pensar em alguém que dribla as dificuldades diárias, seus problemas pessoais e suas angústias justamente na tentativa de fazer o outro rir é imaginar que o ser humano não é egoísta o bastante como vendem por aí. O palhaço tem sim uma credibilidade, camuflada, mas ela existe.

Já os palhaços que não se vestem adequadamente à “profissão”, como é meu caso, também merecem aplausos. Quantas vezes não estive cheio de problemas, mas preferi dar alegria a meu próximo, mesmo através de piadas bobas, sem nexo. Arrancar um sorriso do rosto de meu amigo é minha maior alegria. É como se meu dia tivesse valido realmente a pena. Ver alguém sorrindo é conhecê-lo em seu estado mais natural possível, em sua doçura angelical de criança, perdida pela selvageria do tempo. E como eu gosto disso. Não o faço pra ganhar dinheiro, pra usurpar meu semelhante ou pra mostrar o quanto talentoso sou. Faço isso porque gosto. Sou o espelho do sorriso alheio e isso me basta!

Por fim, decido não abandonar a besteira. É ela quem me faz seguir em frente, continuar olhando esse mundo de uma maneira menos fria e desacreditada. Pensar que tudo poderia ser melhor se você sorrisse ao invés de proferir um xingamento quando alguém pisasse, acidentalmente, em seu pé no ônibus. Por que não rir do trocador quando ele erra na contagem do troco e o entrega faltando 10 centavos? Por que não rir de sua namorada indecisa quanto à escolha do vestido para a festa do sábado? Por que não sorrir? Como diz um desses rock’s modernos, “prefiro ser mais eu, continuar sorrindo”!

Por quê?!

domingo, 16 de outubro de 2011

A essência da impossibilidade

Não era isso? Eu não era a essência da impossibilidade? Então, cá estou eu, depois de um bom tempo, eu sei, pronto pra dar a cara a tapa e dizer tudo o que tenho pra dizer. Vou logo adiantando que não tenho nada pra falar, muito menos pra escrever nestas humildes linhas. É tudo tão indefinido. Aliás, sempre foi. Sempre foi indefinido o que eu sentia por você. Não era amor, atração, desejo. Como disse Martha Medeiros, era melhor. Uma mistura louca, que eu nunca senti igual, mas que não pude – ou não quis – deixar que tomasse conta de mim.

E o que importa? Nós nunca nos demos bem, a não ser pelo carinho infinito que sentimos um pelo outro, pela preocupação quando tudo ia mal, pelo gosto musical maravilhoso, pelas conversas de outrora em mensageiros virtuais. Nunca, nada disso foi mentira. E quanto eu te queria por perto a cada noite de chuva, a cada filme alternativo nos feriados, a cada sábado à tarde. E como eu te achei em um sábado à tarde... Com outra, na praia. Que hilário! Aliás, era você quem devia estar ali, não aquela tresloucada de quem nunca mais tive notícias. Incrível como minha vida é uma cadeia de acontecimentos suscetíveis a roteiros de filme, tipo aquela vez em que voltamos pra casa em um ônibus lotado segurando os dedos um do outro. E tudo isso por causa de um bluetooth ligado...

E das vezes em que te dei bolo? Dá pra abrir uma doceria com tantas vezes em que eu queria estar ao teu lado, mas meu medo foi maior. Medo de seguir em frente com você, de olhar nos seus olhos e não dizer uma palavra sequer. Eu quis isso. Eu quis e imaginei te beijar na fila de cinema ou em um show de rock. Fazia nosso estilo. A gente se completava, de uma maneira que não dá de explicar pros nossos filhos ou pros nossos futuros namorados. Aliás, e você? E seus relacionamentos, como estão? Daqui dá pra te dizer que, hoje, somente uma pessoa mexe tanto comigo a ponto de eu querer dar bolos por sentir medo ou por não saber como e por onde começar. E ela não é você. Ela é tudo o que eu sempre quis, também é perfeita pra ver o pôr do sol da praia, mora perto de você e, inclusive, já foi sua amiga de classe. Ou conhecida, sei lá.

Por mim, passaria a noite inteira escrevendo cartas pra você, remexendo o passado, repintando as partes cinzas de azul e ouvindo as músicas que nunca ouvimos juntos. Era de você quem eu lembrava a cada dia nublado, a cada música do The National, a cada bolinha de papel atirada ao acaso. Ou a cada X marcado na mão para que eu evitasse meus vícios. Ah, te beijar foi como se a janta tivesse sido servida na hora certa, com direito a sobremesa e cupcakes fofinhos que só você sabe degustar. Só não entendi por que o corpo tão quente. Medo? Vontade? Prazer?

Sinto falta de quando eu tinha tempo pra dividir com você meus anseios. De quando te via pelas universidades da vida. De quando te conheci. Foi bom te ter por perto, mesmo que de longe. Juro que queria voltar a sonhar com sua casa, com seus pais e com seu jeito estranho de dizer “entra, a porta tá aberta!”. Quem sabe um dia o karma volte e você me leve àquele lugar especial, tão perto e tão longe, que, aliás, eu nunca soube qual era. Pois é. Eu não senti borboletinhas na barriga, eu não deixei o verão vir esquentar o chão e ver se ainda nascia um amor de verdade, eu só deixei você. Seguir em frente. Segui em frente. Não sei pra onde. Eu simplesmente segui. Boa noite, estranha!

Eu ando em frente por sentir vontade...

domingo, 2 de outubro de 2011

Música, sentimentos e Coldplay

A gente nunca vai entender o poder de certas coisas. Nunca vamos conseguir entender o porquê de nos apaixonarmos, a razão pela qual certo lugar nos faz tanto bem ou o verdadeiro motivo de querermos demasiadamente alguma coisa. De fato, essa incerteza é fabulosa e recai sobre uma dúvida recorrente em minha vida: por que a música nos deixa tão vulneráveis, propensos a sentimentalismos e pequeninos? Teria ela uma fórmula mágica ou seria pura questão de formação, lá na nossa infância? 

Tenho uma vaga lembrança da primeira vez em que ouvi Coldplay, minha banda favorita. Era uma noite de sábado em 2003, aniversário de alguém aqui na rua e aquele piano de “Clocks” insistindo em tocar repetidamente os mesmos acordes. Nessa época, não fazia a mínima ideia de quem diabos era Coldplay, mas adorei a melodia, que ficou guardada na mente. Com o tempo, mais precisamente em 2005, graças ao lançamento do terceiro álbum da banda, X&Y, e de programas como o Disk MTV, passei a contemplar e gostar cada vez mais das canções. 

É como se cada uma tivesse sido trilha sonora de um momento da minha vida. Escola, amigos, namoro, realizações, traumas, decepções, alegrias, tristezas... Um misto de sentimentos conturbados que eu sei muito bem onde e por que estão guardados. Mas por mais que eu tente, não consigo entender qual o poder que essas letras e melodias têm. Por que um piano, frases belíssimas e um sotaque britânico carregado me afetam tanto? Teria alguma explicação racional ou apenas sentir já é o suficiente? 

Sinceramente, prefiro não me ater a essas frivolidades. A música tem um poder inquestionável de nos tornar pessoas melhores, de nos fazer bem e isso, pra mim, já basta. O que não me exime de lamentar minha ausência no show do Coldplay no Rock In Rio. Só de imaginar toda aquela galera fazendo parte do coro de “Viva La Vida”, indo ao delírio com a versão da banda pra “Rehab” da Amy Winehouse e chorando com “Fix You”, bate uma pontinha de inveja. Ver pela televisão já traz uma energia tão boa, pessoalmente deve ser um trilhão de vezes melhor.

No mais, fica a ansiedade pra outro show deles por aqui ou para novos momentos inesquecíveis ao som de suas canções. Um álbum com mais músicas apaixonantes já vem chegando e só nos resta ter um pouquinho de paciência pra ouvi-lo por completo. Ser fã é ter sempre essa esperança de que seu ídolo pode fazer melhor e que o resultado vai agradá-lo de todas as formas possíveis. E um recado ao futuro: “Sim, meus filhos, esse é seu pai escrevendo sobre a banda que embala as noites de vocês. Durmam bem e deixem que eu cuide do resto!”