sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Jogo de estranhos

Se apaixonou pela garota do prédio ao lado, mesmo sem grandes atribuições. Não era bonita o suficiente pra estampar as páginas centrais de uma grande revista de moda nem preenchia outdoors de escolas particulares da cidade. Tinha cabelo curto, piercing no nariz, tatuagem no pulso e no pescoço e falava apressadamente. Deveria citar 1003 palavras em apenas 1 minuto. Seu sorriso completava todos os comerciais de creme dental já vistos na televisão. Era culta. Lia Bukowski, Franz Kafka e Machado de Assis só pra nacionalizar a coisa. Era oculta. Pouco se sabia sobre como viera parar ali ou para onde iria.

Não aguentou e decidiu segui-la, aproveitando que precisava sair. Girou as chaves e procurou velocidade em seu sonho de romance. Ela seguia devagar, discreta, sem pressa, totalmente diferente de quando falava ao telefone, provavelmente com as amigas, pois sempre dizia nomes e cores de esmaltes indecifráveis e inteligíveis para qualquer mente masculina. Ia pela estrada sempre seguindo a mesma faixa, que parecia contínua tal qual sua vontade de afastar-se dele. Já passava das 5. Da tarde. Ele dirigia apressadamente. Deveria atingir 1003 quilômetros em apenas 1 minuto. Pareciam estar indo para o mesmo lugar. Voltemos à realidade.

Descia do carro com seu vestido floral, sapatilha cor de pele, bolsa preta, maquiagem leve e toda a alegria de quase adulta. Mexia no cabelo repetidas vezes e tinha uma mistura compassada de pinturas em seus fios delineados. Só bebia água em seu próprio copo. Queria namorar um homem mais velho, mas já sonhara em ser paixão de um padre. Não aturava mentiras nem ficante metido a rei da balada. Era estudiosa. Apresentava teses e antíteses completadas em uma síntese de vermelhidão tranquila em seu rosto de princesa. Aliás, de deusa. Quando exagerava no álcool, falava inglês, francês, russo. Só queria ser feliz.

Foi quando viu aquele jovem, perdido no primeiro andar da universidade, prestes a adentrar na mesma sala em que passariam os próximos 5 anos juntos. Não fez planos, não dizimou oportunidades, apenas perguntou seu nome. E descobriu que eram vizinhos e que poderiam apostar corrida todas as noites até que um cansasse da disputa e aceitasse parar, respirar e seguir em frente. No prédio ao lado. Eram vizinhos. Contadores de histórias. Sonhador e sonhadora de algo bom. Disso que se chama vida...


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