sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Métodos Marckosianos (6)

Sempre é difícil resumir em palavras algo tão intenso pra você. É assim com o primeiro beijo, com a primeira transa, com a última vez em que se pôde conversar com seu melhor amigo. Falar do ano que passou também não é tarefa fácil, principalmente quando aqueles 365 dias poderiam perfeitamente virar um livro de memórias, digno de estar na prateleira de biografias. Mas é o que venho tentando fazer ano após ano desde o início deste blog. Os “Métodos Marckosianos” viraram uma espécie de momento de reflexão, onde abro meu baú de segredos e exponho tudo ou maioria daquilo que vivi de maneira simplória e agradável a mim e aos outros. Esses outros, tão fundamentais a cada dia.

Revendo os textos anteriores, procurei uma maneira diferente para escrever este aqui. Decidi por algo mais direcionado a quem me lê e não apenas uma seleção de verdades escancaradas sobre mim mesmo. Além do mais, lá no finalzinho, uma playlist com músicas que fizeram meu ano valer a pena e uma lista com 10 coisas para fazer em 2012 – e que podem muito bem servir pra você, que dedicou alguns minutos de leitura às minhas memórias reflexivas. Vamos às lições.

Planeje sim. Nada de querer fazer mil coisas ao mesmo tempo. Aconteceu comigo e gostaria que não se repetisse com ninguém. Estudar, trabalhar, tirar carteira de motorista, sair com os amigos, ficar na internet, assistir filmes e séries, namorar, ir ao banco, viajar... Tudo isso, ao mesmo tempo, não dá certo. Em 2011, baguncei planos e prioridades justamente por não ter planos e prioridades definidos. Saí fazendo coisa após coisa sem me preocupar se iria dar tempo, se eu estaria cansado ao final do dia ou se sairia bem feito. Algumas até deram certo, mas outras vou tentar reorganizar no ano que se inicia.

Nunca pense que acabou. Milagres também acontecem. Quando que eu pensei que, aos 45 do segundo tempo, passaria para Direito em uma universidade federal? Acabara de voltar de uma viagem maravilhosa com o pessoal do curso de História quando recebo uma ligação da faculdade perguntando se eu estaria interessado em uma vaga que havia surgido. “Estou”, disse o menino feliz. Agora é hora de fazer valer a pena a chance vinda dos céus, vinda de Deus. Porque quando nada mais der certo, é n'Ele que se deve confiar.

Cuidado com as camas de gato. Cama de gato, pra quem não sabe (ou só relaciona com aquela novela das 18h da Rede Globo), é uma brincadeira infantil em que se constroem formas com barbantes presos às mãos. Na vida, o barbante pode ser uma mentira, alguém que você conheceu, mas não deu a devida importância, uma atitude peculiar, enfim, algo que, mais tarde, possa entrelaçar seus objetivos ou bagunçá-los, ao sabor do acaso. Aliás, uma cama de gato pode muito bem surgir por acaso, como aconteceu em 2011 pra mim. Dica esperta: somente com bastante sagacidade podemos nos livrar dela.

Viaje. Pela primeira vez, saí do Maranhão. Pela primeira vez, fui a um aeroporto, fiz check-in, voei de avião, passei mal depois de voar de avião, fiz conexões e conheci o Rio de Janeiro. Em um ano em que não tive férias, já que a faculdade tomou todo o meu tempo, passar 1 semana fora foi suficiente para desestressar, fazer novos planos, retomar alguns antigos e visitar locais que com certeza terei o prazer de rever mais tarde. Desejo, sinceramente, que eu possa conhecer novos lugares e aproveitar o que esse mundão tem de belo em 2012.  Ah, imitar o Bob Esponja pros passageiros mais uma vez também seria legal...

Evite a solidão de alguma forma. Ligue pra alguém em um domingo à tarde, saia com uma desconhecida em uma sexta à noite, conheça alguém na mesa de um bar, deixe de ser tímido o suficiente pra marcar uma saída qualquer, faça novos amigos, observe quem está ao seu redor. Não deixe que a solidão domine sua vida monótona ou cheia de metas a cumprir. Nada de negar compromisso com a desculpa de estar sem tempo para dedicar-se a ele. Algumas vezes, pode até ser verdade, mas logo depois, você vai se sentir culpado por não ter alguém por perto, pra lhe oferecer cuidados ou simplesmente ouvir o que você tem a dizer. Dica preciosa, essa. De alguém que já melhorou muito nesse aspecto, mas que busca cada vez mais aprendizado.

Religião não pode afastar as pessoas. Embora seja o que mais se veja atualmente, nunca deixe que lhe digam em quem acreditar. Entender o mundo à sua maneira é a coisa mais bonita que existe e respeitar a opinião do outro acerca desse entendimento será sua maior virtude. Pessoas estão destruindo seus sonhos porque os homens viraram intérpretes de Deus sem nenhuma virtude para isso. Acreditar ou não acreditar só serve para você. Não acredito em um Deus que castigará quem não seguir a Igreja Mundial do Templo Sagrado do Senhor da Assembleia do Sétimo Dia do Julgamento Final Universal. Ele é mais que isso, minha gente. Ele é mais do que nós.

Dê tempo ao tempo. Pessoas que foram embora de sua vida sem dar explicação nenhuma vão voltar, lhe desejando sucesso e os mais sinceros votos de um tempo bom. Não se trata de profecia ou coisa parecida. As pessoas voltam quando sentem que há espaço para elas. Ir embora deve ser culpa do medo, do orgulho ou da própria culpa. Elas voltam, ficam longe o suficiente para que você sinta falta, mas logo se vê que elas estão ali de novo, prontas para lhe ajudar, preparadas para o que der e vier. Porque crescemos. E crescer faz parte de outro verbo: o viver [!]

Trate seu passado com carinho. Nada de cartas queimadas, presentes destruídos, indiretas idiotas. Nada de passar pela pessoa amada de outrora e virar a cara, praguejar contra os deuses, fugir. Isso tudo é coisa de gente incapaz de dar valor ao que se teve de bom, incapaz de conseguir viver novos tempos bons com novas pessoas boas. Deve-se ter respeito pela figura do outro e evitar certas atitudes que você mesmo não gostaria de encarar. 2011 me ensinou que é preciso ter coragem para seguir em frente e muito mais que isso para encarar toda a poeira que nossos passos deixaram pelo caminho. E que esse pretérito seja de paz.

Enfim. Ainda queria falar tanta coisa, mas já chega. Já são quase 11 da noite da última sexta-feira de 2011 e eu acabo de perceber que as oportunidades mais brilhantes do ano eu agarrei com toda a força, com toda a garra, com toda fé. Se você não fez isso, relaxe. Você ainda tem o sábado inteiro pra procurar o garoto ou a garota dos seus sonhos. Ainda dá pra voltar a falar com seu filho, irmão, sobrinho ou ex-namorado idiota que você não vê há tanto tempo. Ainda resta tempo pra terminar de ler aquele livro que você vem arrastando desde o início do ano. Ainda dá pra aproveitar a lua crescente, o sol, a chuva, afastar seus medos, encontrar um motivo pra viver, deixar pra trás quem te deixa pra trás. Ainda há tempo de viver!

Que 2012 seja a síntese de tudo o que você plantou em 2011. Que seja um ano repleto de realizações pessoais, profissionais, amorosas e religiosas. E que eu possa riscar todos os itens da listinha e dizer, verdadeiramente, que eu pude fazer valer a pena. Que 2012 seja doce!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Boas festas...

Viviam às turras. O Marido, cansado, chega em casa, desabotoa o palitó, deixa o sapato pela sala e pega rapidamente o controle remoto a fim de não perder os minutos finais do jogo de quarta. A Esposa, que a essa altura já brigou com o Filho adolescente por causa do barulho da guitarra, ensaia mais uma discussão, agora com aquele que outrora fora o destinatário de seu ‘felizes para sempre’. O Marido retruca dizendo que está cansado, o que se comprova pela sexta palavra deste conto infeliz. A queixa faz lembrar a casa ao lado, onde a mesma cena se repetiu noite passada. Agora são as opções de comida que desagradam os ex-noivos. O Filho continua tocando Nirvana com notas erradas. Isso acontece, religiosamente, todo santo dia.

24 de Dezembro. O Marido beija a Esposa e exala o perfume novo que ganhou da prometida como se não houvesse amanhã. O Filho de 16 anos veste uma roupa nova que ganhou da mãe protetora e passeia pela casa com a 18ª Namorada. Comida não é problema. Na mesa posta, várias opções para um jantar que só pode ser servido à meia-noite, preparado especialmente pela mulher que mais gosta de cozinhar nesse mundo: a Esposa. Os Tios chegam trazendo os Avós, meio desconsertados pela idade avançada, mas cheios de histórias. A Prima começa a flertar com o Filho e a Namorada do Filho imagina uma cena de ciúme explícito, mas se contém, afinal é noite de Natal. A felicidade reina e a falsidade também.

Intervalo entre 25 e 30 de Dezembro: favor ler o primeiro parágrafo (com exceção do futebol, que, nessa época, é substituído por comédias duvidosas).

31 de Dezembro. O Marido traz uma caixa de fogos de artifício e promete “passar a virada” tocando foguetes, o que não faz desde os 12 anos de idade porque queimou a mão acidentalmente. A Esposa liga para as amigas e procura uma festa animada, de preferência com comida pronta e boa música, para fazer o Marido desistir da ideia boba. O Filho passeia pela casa com a 19ª Namorada (leia-se: a Prima). Todo mundo resolve, em uma conversa pacífica, passar o “Ano Novo” na praia. O Marido põe a bermuda branca que ganhou no amigo invisível da empresa, a Esposa coloca o vestido que mandou fazer na costureira e o Filho continua beijando a Prima, pouco se importando com o que usar.

1º de Janeiro. Um trânsito infernal na hora de voltar da praia. A Esposa passa mal graças a um marisco que comeu horas antes por lá. O Marido, depois de umas 5 cervejas, começa a dizer que avisou para ela não comer “porcaria” e que deveriam ter ficado em casa iluminando o céu do bairro com os tais fogos. Os dois brigam. O Filho e a Prima encontram uns amigos e se drogam na areia. Já é quase de manhã. Aparentemente, tudo voltou ao normal. Com gosto de Ano Novo, com jeito de vida velha...

Tenho me perguntado isso todos os dias...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Solto em uma cama de gato

Quer saber? Já tô cansado de viver como em um filme do Woody Allen. Cansei de tantos encontros e desencontros, chegadas e despedidas, histórias fortuitas e intempestivas. Cansei de alcançar a pessoa certa e simplesmente desperdiçá-la por minha falta de coragem ou qualquer outra coisa parecida. Tô cansado de chegar ao ponto de ônibus segundos depois do coletivo ter passado. Cansei por nem ter chegado. Eu, sinceramente, cansei.

Não é por causa de você. Nem por sua causa. Nem pela sua. Vocês formaram a tríade do que eu pensei ser impossível, do que eu nunca acreditei que pudesse acontecer, daquilo que eu nunca sonhei que viesse a ser verdade. Estou preso a uma cama de gato, diferente das normais, já que eu posso sair dela a qualquer momento, até porque ela nem existe realmente. É uma cama de gato eficiente. Problemas resolvidos que, do nada, parecem mal resolvidos; histórias incompletas que se completam justamente por causa da incompletude nelas evidente; romances que nem mesmo aconteceram, mas que povoaram minha mente por semanas e semanas.

Afinal, o que é certo a fazer? Envolver-se em uma trama insincera e resolver todos os seus problemas ou vivenciar uma paixão tórrida há tanto sonhada e cair no abismo da traição? O que é justo? Se a gente não tivesse exagerado a dose, teria vivido um amor Grand Hotel, esse mesmo, do filme antigo. Aliás, o que anda sendo o amor ultimamente? O retorno a uma realidade de duros golpes ou a pura ausência do querer aventurar-se? Não consegui dormir noite passada. Rolei na cama por horas até entender que eu sem você é pura questão de tempo. E que eu sem a gente, simplesmente não existe.

Tenho sido poeta, eu sei. Mas poesia ainda é uma das poucas coisas que me restam, aliada ao meu bom senso, ao bom caráter e ao bom dia. Não tenho do que reclamar, eu só não estava preparado pra enfrentar tanta coisa em tão pouco tempo. Ou devo dizer, tanta falta de tanta coisa em tão pouco tempo. O certo é que tenho grande parte da culpa pela inexistência de algumas dessas coisas. Eu reneguei, deixei pra lá e cá estou eu, digitando freneticamente tudo o que me vem à cabeça. E o pior que nenhuma gota de chuva cai do céu.

Se era isso que queriam, conseguiram. Não duvido nada de terem planejado tudo isso em um domingo à tarde, com nutellas à mesa e vingança na mente. Plantaram evidências nos locais certos, aproveitaram-se de minha nobreza e conquistaram o mais precioso dos meus bens: o coração. Nele, está guardada a lição mais valiosa que aprendi disso tudo: respeito é bom e eu gosto. E foi o que eu mais tive de vocês nesses últimos tempos.

Cada uma é inesquecível à sua forma. E o único elo pra que essa história pudesse fazer sentido estava aqui o tempo todo, pronto pra vivê-la, cabeça erguida e coração desprotegido. Não condeno vocês por nada. Ninguém foi o culpado. Eu só não tive tempo de dizer tudo o que eu queria a quem eu queria. Hoje, já está tudo resolvido. Sinceridades à parte, vejo, finalmente, que Drummond tinha razão quando escreveu "Quadrilha". E, olha, eu morro de medo de ser um J. Pinto Fernandes, aquele que nem sequer havia entrado na história.

História de um par - Stalingrado