segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Métodos Marckosianos (7)

Hora da retrospectiva. Hora de abrir as gavetas, retirar o lixo acumulado, arrumar todo o volume amontoado e procurar aproveitar apenas aquilo que vale a pena de verdade. Selecionamos pessoas, histórias e fotografias e as colocamos no baú do recomeço, esperando que a fagulha do novo seja capaz de preservar emoções inesquecíveis. Prolongamos sentimentos, analisamos condutas e acabamos culpados pelo simples ato de tentar novamente. Mais uma chance pra tentar ser feliz. Mais um ano pra chamar de seu.

Não sei ao certo se 2012 foi um ano bom pra mim. O fato de encerrá-lo com saúde, bons amigos e paz em família já é suficiente pra afastar todos os prognósticos de que os últimos 366 dias foram ruins. Mas acontece que o ser humano é insatisfeito. Nada está 100% perfeito e sempre vai faltar a peça do quebra-cabeça capaz de finalizar a brincadeira. E que peça é essa capaz de deixar o trem seguir em linha reta? Que peça é essa capaz de acabar com a diversão? Terminar o jogo é a melhor saída? Não sei não...

Decidi contar um pouco sobre meu ano selecionando 12 palavras que sintetizam, mais ou menos, tudo aquilo pelo que passei. Não posso jamais abrir minha boca e dizer que fui infeliz nos últimos meses. Seria uma ofensa contra mim e contra as muitas pessoas especiais que passaram por minha vida durante 2012. Felicidade é uma questão de espírito. Ou só questão de ser, como diz Jeneci. E que comecem os trabalhos...

PERDÃO. Eu sempre fui de perdoar. Deixar as mágoas pra trás e resolver meus problemas de maneira pacífica e ordeira. Ao longo desses 21 anos, muita água ofensiva rolou por debaixo da minha ponte, mas eu consegui controlar a onda formada ao meu redor. Perdoei atitudes, palavras (ditas e não ditas) e condutas, mantendo a cabeça erguida enquanto esperava que tudo voltasse ao normal - se assim tivesse de ser. O tempo passou e um dos meus grandes amigos de infância voltou a frequentar minha vida. Minha ausência deve ter servido pra alguma coisa e hoje ele mostra ser uma pessoa bem melhor do que aquela que perdeu minha confiança anos atrás. Espero que tudo continue assim. E que nossas memórias continuem firmes pra lembrar daquele passado glorioso de outrora.

MEDO. Mentira se eu disser que não tentei recomeçar, amorosamente falando. Tentei - de uma maneira torta, é bem verdade -, mas tentei. Eu sempre disse que tentar é melhor do que deixar pra lá. Mas em 2012 eu consegui a brilhante proeza de tentar deixando pra lá. Não fui mais feliz porque faltou coragem. Coragem do beijo roubado, da decisão na hora certa, coragem de parar de pensar nos outros e olhar mais pra mim... Mas a culpa não é só minha. É difícil tentar ser corajoso quando a outra pessoa não esboça reação ou quando sequer sugere que algo pode acontecer. Faltou coragem pra agir, mas não faltou decepção pra aprender.

DECEPÇÃO. Nós sempre iremos nos decepcionar. Com a namorada, com o marido, com o time de futebol, com o político eleito. A decepção está na linha da vida. Tentar evitá-la é pura perda de tempo. Mas dá pra aliviar a dor se preparando para o pior. Não sugiro que sejamos pessimistas, apenas desconfiados e um pouco atentos aos movimentos do jogo. Você, minha cara, é meu retrato de decepção em 2012. E todos os seus medos e complexos? E todos aqueles telefonemas querendo me ver, tipo, do nada? Não era um sinal? Entendi errado ou você queria brincar de sugerir o que não poderia ser sugerido? Eu sei. Fui embora primeiro, mas você sabe o motivo: querer e não ter estava ficando insuportável. Perdi você duas vezes em um único ano. Agora é pra valer. A gente se perdeu...

MARASMO. Larguei o emprego porque a faculdade iria me tomar muito tempo. Risos. Veio a greve das universidades federais e todos os meus planos foram por água abaixo. Consegui descansar e recarregar as baterias por um longo ano. Fiquei viciado em Avenida Brasil e escrevi até um texto falando sobre a novela. Pra quem não parava desde 2010, uns meses acordando às 10 da manhã fizeram um bem danado. Agora vou deixar a preguiça existencial de lado, arregaçar as mangas e começar novos projetos em 2013. Espero que tudo dê certo, se Deus quiser!

MUDANÇA. "Valeu a pena acreditar na mudança, valeu a pena!" Eu nunca me envolvi tanto com política quanto durante as últimas eleições municipais em São Luís. Indignado com a gestão do ex-prefeito (como é bom poder colocar esse prefixo) João Castelo, usei minha voz e mínima influência nas redes sociais pra espalhar a ideia de que mudar era preciso. Edivaldo Holanda Jr. se tornou um dos ícones e ídolos da minha curta existência. O candidato que carregava o 36 no peito, assim como milhares de ludovicenses, se mostrou, acima de tudo, humilde, conseguindo vencer a eleição depois de 3 meses de muito suor pelos bairros. A dura tarefa de comandar uma das cidades mais antigas do Brasil começa agora. Espero não ter que colocá-lo na lista de decepções da minha vida daqui a algum tempo. Espero de verdade...

DIVERSÃO. Eis as vantagens de ser solteiro: poder sair sem dar satisfação, aproveitar o melhor da noite sem ter que se explicar no dia seguinte, fazer o que der na telha, etc, etc, etc. E como eu me diverti em 2012. Baladas, festas particulares, lanches, almoços, jantares. Até a mais simples ida ao cinema foi motivo de diversão no ano que finda. Com a ajuda do velho e querido álcool, muitas emoções foram potencializadas, muitas mensagens foram mandadas na hora errada e até algumas mordidas foram dadas, tudo em prol do "ter história pra contar". A gente não ganha nada, mas se diverte!

EFÊMERO. Ah, o efêmero! As emoções passageiras, o beijo que não dura mais que uma noite, as palavras ditas que não fazem o menor sentido no amanhã... Pela primeira vez, descobri a sensação por trás do "ficar sem compromisso" e me acostumei com certas coisas. Ainda tentei ligar no dia seguinte, mandar mensagem pelo Facebook, puxar papo no Whatsapp, mas uma hora acordei e percebi que aquilo não era o que ninguém queria. Estabeleci limites e fui sincero até onde pude, tentando fazer com que ninguém saísse magoado desse arremedo de relacionamento. Se o fiz, peço sinceras desculpas. A gente erra na melhor das intenções. Faz parte da vida.

ZUERA. Não, a palavra não está escrita errada. A "zuera" a que me refiro é a diversão desmedida dos amigos maranhenses do Twitter. Uma turma legal que tive o prazer de conhecer em 2012 e responsável por muitos e bons momentos de alegria e loucura no ano que se encerra. Afinal, não é todo dia e com qualquer grupo de amigos que você leva sua mãe de 40 anos para ir ao banheiro de um bar onde rockeiros se reúnem no fim de semana. Nunca vou me esquecer da cara dela olhando pra eles e dizendo: "esse lugar é estranho!".

CONHECIMENTO. Li muito mais que 400 páginas em uma semana, como desejei ano passado. A faculdade e o prazer pelo saber me transformaram em um leitor sedento até por bula de remédio. Não que eu não tivesse esse hábito antes, mas ele foi potencializado em 2012 e, com certeza, será mais ainda nos anos seguintes. Vi bons filmes, li muita coisa e ouvi histórias incríveis de gente igualmente sensacional. Aliás, essa sede de conhecimento é um conselho que sempre darei para qualquer um. Se quiser me agradar, me peça uma sugestão de filme ou livro. Todo mundo sairá satisfeito da conversa...

PROMESSA. Como eu prometi em 2012. Prometi uma caixa de chocolates pra uma amiga na Páscoa e nada até hoje. Prometi que não sairia da vida de uma pessoa e saí - por um motivo plausível, mas saí. Prometi cumprir algumas promessas antigas e nada. E quanto aos furos e bolos? Desmarquei tantas saídas previamente combinadas que até perdi a conta. Mas tem uma explicação, eu acho. O marasmo de 2012 me fez desistir de muita coisa. A empolgação de uma semana inteira ia embora justamente no dia em que o evento aconteceria. Tudo culpa da preguiça existencial. Mas isso acabou. Faço agora a primeira promessa pra 2013: prometer menos e agir mais. E que eu consiga cumpri-la, afinal.

SHOW. David Guetta, Pouca Vogal, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Vander Lee, Alcione, Zeca Pagodinho e Roupa Nova, sem contar as bandas maranhenses. Nunca fui em tanto show como em 2012. A companhia agradável, seja da família ou dos amigos, contribui fortemente para tornar o espetáculo inesquecível. Encerro o ano com lembranças marcantes de cada um desses shows. E que venha muito mais em 2013.

SURPRESA. Muita coisa me surpreendeu em 2012. Foram histórias, casos vistos na televisão, algumas pessoas (que foram gratas surpresas especiais do ano que se encerra) e, principalmente, as manifestações de parabéns pelas redes sociais no dia de meu aniversário. Pela primeira vez, consegui perceber como as pessoas me veem de verdade. Longe de toda a falsidade e indiferença que supostamente reina na internet, li depoimentos e desejos sinceros totalmente inesperados. Gente que não tem um grande contato comigo na "vida real", mas que me admira pela web, por exemplo. A todos que me desejaram parabéns no dia 17, meu muito obrigado. Juro não decepcioná-los e tentar ser alguém melhor a cada dia.

Pois bem. O texto é grande, mas é de coração. Acho que resumi de maneira satisfatória um pouco desse 2012 controverso. A vida continua, apesar de sabermos que, na prática, a simples mudança de calendário não muda absolutamente nada. Que sejamos pessoas melhores em 2013 e que possamos compreender que cultivar o amor ainda é a melhor saída para os principais problemas da humanidade. Viva 2013. Viva!


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Top 10 - Músicas Para Aproveitar o Fim do Mundo

21 de Dezembro de 2012. Eis o fatídico dia do juízo final, segundo a famosa profecia dos Maias. O mundo que conhecemos não existirá mais depois de sexta-feira. Tecnologia, Natal, Réveillon, tudo será mera lembrança - ou nem mesmo lembrança, já que não restará ninguém para contar história. Pensando nisso, com a intenção de fazer com que aproveitemos bem nossas últimas horas na Terra, resolvi selecionar 10 músicas que falam sobre o fim, seja o final de um relacionamento, o adeus a alguém especial ou sobre o fim do mundo, propriamente dito!

10
Não Aprendi a Dizer Adeus by Leandro e Leonardo on Grooveshark
"Não Aprendi a Dizer Adeus", de Leandro e Leonardo tem 21 anos, assim como eu. A canção de 1991 retrata o final de um relacionamento, a reluta em aceitar o fato, mas, principalmente, expõe um eu-lírico conformado com o abandono, ao desejar a felicidade da pessoa amada, mesmo que longe dele. Em 1998, com a morte de Leandro, a canção foi entoada por milhares de fãs durante o velório e o enterro do músico. Nunca aprendemos a dizer adeus, mas sempre esperamos que o inverno passe e apague a cicatriz.

9
Até o Fim by Engenheiros do Hawaii on Grooveshark
Uma das canções mais bonitas dos Engenheiros do Hawaii, "Até o Fim", de 2003, é uma verdadeira ode à persistência. Com frases como "não vim até aqui pra desistir agora" e "se depender de mim, eu vou até o fim", a música nos mostra que não desistir pode ser a melhor saída para os problemas da vida. Um verdadeiro livro de autoajuda, em versão musical.

8
Antes do fim by Gram on Grooveshark
Gram foi uma banda paulistana dos anos 2000, conhecida principalmente por causa da canção "Você Pode Ir na Janela", cujo clipe vivia nas paradas da MTV em 2004. "Antes do Fim" retrata o egoísmo daqueles que querem "ter a cara em bronze numa praça" sem ter feito nada de importante para isso. A letra ainda revela a infelicidade dessas pessoas, presas em solidão e longe do fim. Vale a pena conhecer outras músicas da banda, que, infelizmente, encerrou suas atividades em 2007.

7
My Happy Ending [Album Version] by Avril Lavigne on Grooveshark
Terminar um relacionamento é sempre doloroso. Todos os momentos vividos e todas as fotos colocadas no Instagram simplesmente não fazem mais sentido depois do infeliz "não dá mais". E sobre os fins de relacionamentos na adolescência, o que dizer? Em 2004, durante a minha adolescência, "My Happy Ending", da Avril Lavigne, era uma das canções mais tocadas no mundo e falava justamente sobre isso: traição e o consequente rompimento do casal. "All the things you hide from me, all the shit that you do" só pioram a coisa e não há explicação que conserte. Nunca foi trilha sonora de nenhum término da minha vida, mas cairia bem para alguns. Afinal, ainda falta muito para eu ter o meu "happy ending".

6
It Ends Tonight by The All-American Rejects on Grooveshark
Alívio. Pelo menos pra mim, é o que move a letra de "It Ends Tonight" do The All-American Rejects. Chega a hora de soltar as amarras e ir embora, deixando alguém para trás. "Maybe it's best you leave me alone" e isso terá fim hoje à noite. Às vezes, apesar de não ser a única opção, ir embora e desembaraçar a mente é o melhor a se fazer, mesmo que a outra pessoa não entenda o porquê daquilo. Experiência própria e essa música tocando no momento em que fiz isso.

5
Till the World Ends by Britney Spears on Grooveshark
Embarcando na moda do fim do mundo, que assola os mais medrosos desde o início da década, Britney Spears fez sucesso nas paradas e baladas mundiais em 2011 com sua "Till The World Ends". Perfeita para se acabar na pista, a música sugere justamente isso: dançar até o mundo acabar. A vontade que dá é a de não parar de cantar o "oh oh oh oh oh oh oh..." que se repete insistentemente ao final da música. "Dance, mesmo que não tenha aonde, além de seu próprio quarto".

4
U2 - Until The End Of The World by Various Artists on Grooveshark
Homônima ao filme do qual foi trilha sonora, "Until The End Of The World", de 1991, é uma canção do U2 que fala sobre o fim do mundo muito antes da divulgação massiva da profecia maia sobre 2012. O que se sabe é que desde sempre a humanidade encarou suposições apocalípticas como essa, seja através do profeta Nostradamus ou por meio de adivinhos duvidosos mundo afora. A letra da canção descreve uma conversa fictícia entre Jesus Cristo e Judas Iscariotes, com temas que vão da Última Ceia ao suicídio de um Judas triste e arrependido após trair o filho de Deus. Eis o Apocalipse causado por uma traição, mesmo que hipoteticamente falando.

3
Its The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine) [edit] by R.E.M. on Grooveshark
"It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)", da banda americana R.E.M., é o retrato fiel do Apocalipse moderno a que estamos sujeitos. A letra mistura elementos contidos no livro bíblico sobre o juízo final, como os sete selos, por exemplo, e costumes e problemas rotineiros da atual sociedade (apesar da música ser de 1987), como a guerra, a falta de comida e o insistente ato de televisionar tudo. É o fim do mundo que conhecemos, cheio de mazelas e desesperança, para dar lugar a um provável mundo novo e melhor. Se for assim, melhor que acabe logo - e que permaneça quem deve permanecer.

"Um Minuto Para o Fim do Mundo" do CPM 22 não poderia deixar de entrar nessa lista. Já vi diversas entrevistas dos caras em programas de TV ultimamente e sempre perguntam se eles vão cantar essa música no dia 21. O vocalista desconversa, fala sobre o sucesso da canção de 2005 e acaba cantando. O certo é que você verá diversas piadinhas na internet às 23h59 do dia 20 com a letra dessa música - que não fala sobre a catástrofe do fim do mundo ou coisa parecida. É mais um final de namoro cheio de sentimentos exagerados, hiperbólicos, algo que deixa você tão mal que parece ser o prenúncio da morte. "E só de pensar em te perder por um segundo, eu sei que isso é o fim do mundo". Ah, sentimentalismos...

É incrível a sensação de paz que "Champagne Supernova" (1996) do Oasis me dá. O barulho das ondas do mar no início da canção, a voz compassada do Liam Gallagher e até a ideia de ter uma Supernova no céu enquanto alguém me encontra debaixo de um deslizamento de terra, me fazem ter a certeza de que essa é a música que eu queria escutar no repeat durante o fim do mundo. Procurando saber sobre a história por trás da letra, descobri três versões sobre o título da música. A primeira remete ao álbum "Bossanova", da banda Pixies. Noel Gallagher teria confundido o nome do disco enquanto assistia a um documentário sobre champagne. Outra versão da história é que "champagne supernova" é o ato de fumar maconha enquanto bebe-se champagne. Porém, a hipótese mais aceita é a de que em 1995, após um show na Noruega, os irmãos Gallagher teriam ficado encantados com um observatório do local, de onde é possível ver uma Supernova, que, segundo eles, é da cor "champagne". Daí a justificativa do título quase-oficial da música. É, sem dúvida, uma bela canção - e perfeita para dar adeus a esse mundo e encontrar outro, como declarou Noel em 2005, ao dizer que, talvez, a letra fale sobre reencarnação.


sábado, 15 de dezembro de 2012

Destino: futuro!

[Marcos, esta carta é para o futuro. É pra deixar guardada bem no fundo da gaveta que você menos usa. Um dia ela servirá pra alguma coisa. Eu espero...]

A gente envelhece. Ganha olheiras, algumas dezenas de cabelos brancos e um bocado de preocupação. Criamos expectativas, desejos, fantasiamos romances impossíveis, conhecemos pessoas maravilhosas e seguimos em frente deixando tudo “voando sem instrumento, ao sabor do vento”. E sempre tem aquela peça que não encaixa, feito quebra-cabeça com defeito de fábrica. E tudo isso tem te perturbado bastante no início desses 21 anos, né?

Calma. Na pior das hipóteses, é bom encarar tudo isso como sendo inferno astral pré-aniversário. Se essa preguiça existencial não passar, é melhor procurar ajuda psicológica. Lembre-se de que não conseguimos nada de mão beijada. É preciso se levantar da cadeira de balanço, colocar a melhor roupa e ir em busca da diferença – mesmo que ela seja a mesmice pintada com uma cor azul anil. Hoje eu decidi escrever sem nexo de causalidade, sem razão, sem porquê. Sou eu contra mim mesmo (e a favor de uma dezena de leitores que ainda acreditam nos meus devaneios).

Tá difícil recomeçar, né? Essa mistura de sentimentos não faz bem a você e só prejudica quem está ao seu redor, esperando uma resposta, um convite para ir ao cinema ou a um show qualquer. Tem sido difícil convidar. Tem sido mais fácil recusar convites. Vamos mudar? Você já mudou? O bacana é parar de fantasiar defeitos e tentar encontrá-los de fato. E quem não tem defeitos? Custa procurar? Custa se decepcionar? A gente tá de passagem nesse show chamado ‘vida’ justamente pra isso. Pelo menos é o que eu penso. Pelo menos é o que me fizeram pensar.

Elas. Sempre a tua dor de cabeça. Você se apaixona, se apaixona, se apaixona, desapaixona, desapaixona, reapaixona, apaixona de novo, esse eterno ciclo de querer se apaixonar. E fica imaginando como será daqui a 10 anos. Como estamos depois de 10 anos? Muita coisa mudou? Muita gente mudou? Quem é você agora, Marcos? Alguém melhor que eu? Alguém mais angustiado, mais satisfeito, mais feliz? E elas? Ainda importam ou todas foram pontes para um nível mais apurado de felicidade?

Ainda prefere a noite? Ainda tem aqueles sonhos dos tempos da faculdade? Quais dores sente? Os joelhos estão bem? Já fez seu check-up? Já aprendeu a dirigir (espero que o trânsito esteja menos caótico)? Já voltou ao Rio de Janeiro? Já conheceu Curitiba, Minas Gerais, Fortaleza e São Paulo? Depois dessas perguntas, eu vejo que ainda há tanto pela frente! É bom se cuidar. A preferência é planejar, deixar sempre a inquietude te manipular. Ainda te apetece quem te apetecia?

Sei lá. São palavras e perguntas soltas, sem sentido. É de madrugada e poucas vezes eu, você, nós conseguimos escrever nesse horário. Não vou me estender. Todas as correções devem ser feitas em mim, não em você. Você é projeto corrigido, versão deluxe, com faixa bônus e novidades. Saiba que te admiro bastante sem nem ao menos te conhecer. Acho que você deu certo. Era tudo o que eu queria pra mim, tirando um ou dois probleminhas fáceis de resolver. Esqueça a dificuldade e mantenha o foco. Lembre-se de mim, prestes a completar 21 anos, e se pergunte: “eu mudei?”. Mudança, esse eterno jogo onde o adversário é você mesmo. Bom dia. Boa tarde. Boa noite. E manda um beijo pra ela, seja quem ela for!


domingo, 25 de novembro de 2012

Carta de arrependimento

Não se preocupe comigo, guria. Eu sei me cuidar! Pelo menos é o que eu acho e o que venho repetindo todos os dias em frente ao espelho. A cada despertar desengonçado às 9 da manhã desses dias insuportavelmente ensolarados, eu tento enxergar meu reflexo de uma forma melhor, sem o esfregar de olhos característico de quem ainda não acordou direito. Todo dia tem sido miseravelmente chato aceitar o fato de que você não está aqui para me dar um beijo de bom dia ou me servir uma fatia de bolo da padaria. Até o padeiro já sabe que você foi embora. Só eu que ainda não aceitei sua decisão.

Aceitar e acreditar são coisas diametralmente diferentes, mas que eu faço questão de unir em um só corpo e um só espírito. Saudade de nossos domingos na Igreja de manhã cedinho. Você me fazia ter fé na vida, em Deus e na gente. Pegávamos nosso ônibus e passeávamos pelo centro da cidade, todo esburacado, fazendo daquela a nossa cena romântica da semana. Eu tinha pena da felicidade infeliz dos casais que por nós passavam. Aquela mesmice, chatice, coisa mais sem graça. Nós não. Nós éramos Romeu e Julieta sem a inimizade das famílias. E eu não era nada sem você.

Você sempre fazia questão de aumentar a voz quando a Cássia Eller cantava “que o pra sempre, sempre acaba”. Era um recado explícito a um jovem apaixonado feito eu. Hoje não tem mais graça ouvir nossas músicas, assistir a nossos filmes, degustar nossas comidas. Já não tem mais graça ser engraçado. Como você gostava das minhas piadas sem graça, dos meus hematomas após esbarrar em todos os móveis da casa, como você cuidava bem de mim. Eu fui um ingrato quando te traí. Eu deixei escapar a única certeza que eu tinha na vida: a de que eu só seria feliz com você.

Agora estou aqui, em casa em um sábado à noite, digitando essas palavras bobas de arrependimento. Bobas porque não acredito que elas serão suficientes para trazer você de volta. Se eu quisesse você de volta, eu levantava agora dessa cadeira, pegava meu carro e iria a sua casa fazer serenata, aproveitando para acordar seus pais e vizinhos. Mas eu não sei dirigir. Eu não sei dirigir minha vida sem você. E você, sabe? Sabe ser feliz sozinha ou com outra pessoa? Não me diga que aprende porque eu não vou conseguir aceitar. Aceita casar, ter filhos, um cachorro e uma casa na praia quando formos ricos?

Eu sei me cuidar, meu amor. Se esse sol todo for embora amanhã, eu levo meu guarda-chuva na mochila e te deixo despreocupada, ok? Agora deita, dorme e descansa. Preciso ir ao bar encontrar a galera. Preciso chegar antes de todo mundo, olhar para o lado e prestar atenção naquela morena maravilhosa que está acompanhada na outra mesa. Preciso disfarçar, olhar para os lados, conferir o relógio e esperar que ela finja que vai ao banheiro só para poder encontrar comigo. Preciso levantar, atender aos meus instintos masculinos, segui-la, mirar aqueles seios fartos e desistir, mesmo após constatar toda a volúpia e lascívia em seu olhar, dizendo:

- Tem rímel aí, colega? Fico péssima sem maquiagem!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Preguiça, neutralidade e outras considerações

E quando me perguntaram sobre o que eu estava sentindo, simplesmente respondi: “tenho estado e ficado neutro”, sem pensar em todas as consequências tortas que teriam aquelas cinco palavras. Tortas porque, de fato, nem eu sei se estou neutro sentimentalmente ou não. Talvez a frase tenha sido escarrada justamente porque é como eu gostaria de estar nesse momento ou porque é assim que estou sem nem ao menos perceber. O que sei é que essa indefinição sobre sentir – o que não significa insensibilidade – tem sido positiva, pelo menos pra mim.

A falta de alguém pra preencher meus pensamentos antes de dormir é algo novo por aqui. Rola até um medo dessa ausência de vez em quando. Será que eu perdi a capacidade de amar? Ando desacreditado amorosamente? Por onde recomeçar? Os traumas de antigamente tinham o poder de fazer com que eu fosse além, buscando superá-los e fazendo novas escolhas imediatamente. Hoje vejo como mudei. Pouco me importa fazer a diferença, ir lá fora e encarar o sol quente procurando algo novo. Bate preguiça, eu perco a vontade. E culpo a greve, culpo a falta de tempo, culpo você – mesmo que você não tenha nada com isso.

Antes que os leitores fiquem procurando dar nome aos bois, saibam que o único personagem dessas linhas de desabafo sou eu mesmo. Um eu prestes a completar 21 anos e sem muitos planos definidos. Como tenho dito, me surpreendo com a capacidade que algumas pessoas têm de planejar tanto essa vida incerta que a gente leva. Acho tão bonito quando alguém escancara seus planos futuros e se empolga com aquilo. Queria ser assim – e talvez eu seja – mas ando com preguiça até de planejar. Aos esbanjadores de sonhos, continuem assim. Vocês me fazem ter a certeza de que sonhar é preciso!

Envolvido em situações desconcertantes e desafiadoras, acho que até consegui um avanço. Talvez eu tenha usado esse tempo de resignação, que já está se esvaindo, pra conhecer gente nova e não me apegar, diferentemente de como eu fazia antigamente. Aliás, eu até tentei me apegar, mas levei um drible glorioso da preguiça, que não me deixou seguir em frente. Falando assim, até pareço um desses caras que passa o dia inteiro sem fazer nada, curtindo o ócio trancado em um quarto escuro, ouvindo rock e jogando videogame. Acreditem se quiser, eu envelheci uns 10 anos nesses meses parado por causa da greve na faculdade. Hoje tenho muito mais conteúdo e poder de decisão do que antigamente.

Fazer esse balanço entre quem você é hoje e quem era você no passado sempre é positivo. Recomendo que o façam sem pestanejar. Vocês descobrirão novos sabores, diferentes sensações e saberão por onde pisar agora que está tudo novo de novo. Tenho a certeza de que estou novo de novo, mas não sei ao certo se estou neutro ou não. Até porque não dá pra ser imparcial nessa selva de pedra chamada existência. Ou você gosta dela ou não gosta. Hoje, eu só preciso me declarar. Com uma dose de vinho na cabeça e um pagode duvidoso tocando lá pras bandas do Sá Viana. “E se vai atrás da moça, como um filme, sempre vence o bem”.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Precisamos falar sobre reforma

Enquanto escrevo este texto, o pedreiro está produzindo entulho (e fazendo barulho) na porta da minha casa. A morada, antes baixa – característica marcante do bairro onde moro –, precisou ganhar uma garagem pra ficar nivelada em relação às outras da rua. Mentira se eu disser que não rola um medo de morar em uma casa baixa em tempos de violência urbana. A cerca elétrica até resolveria o problema, mas uma garagem, além de aumentar o valor do imóvel para uma possível venda, é extremamente necessária no caso de uma redução ainda maior do IPI para que eu pense em comprar um carro.

Ser o homem da casa desde os 17 anos me possibilitou muita coisa, inclusive administrar as contas do mês e programar direitinho o que dá pra fazer e o que não dá no próximo. Você pode pensar que é muita responsabilidade pra um adolescente, mas até que é fácil e tenho certeza de que irá me ajudar bastante quando eu for pai de família. Mais poder de decisão e menos dúvidas para um “marinheiro de primeira viagem”.

Quanto à reforma em si, o problema de modificar um imóvel, ou até mesmo construí-lo do zero, é a dor de cabeça que dá. A primeira dificuldade é encontrar um pedreiro. Em tempos de considerável aumento na construção civil brasileira, com cada vez mais prédios e condomínios sendo erguidos, esses profissionais ficaram raríssimos e os que sobraram cobram absurdos por trabalhos ditos “pequenos”. Primeira dica: contratar um operário confiável, recomendado por alguém igualmente confiável e entrar em acordo quanto ao preço da obra. O diálogo ainda é a base de tudo.

Feito isso, é hora de adquirir o material bruto necessário para o serviço. Assim como na compra de qualquer coisa, pesquisar é a alma do negócio. No meu caso, consegui bons descontos batendo perna em busca do melhor preço. Comprar à vista também pode ser uma boa, mas depende bastante do orçamento disponível naquele momento. Iniciar uma obra contando com dinheiro que não está em caixa é roubada. Dica esperta: anote todos os seus gastos e controle tudo o que entra e sai de seu bolso. É preciso ter consciência de que sempre vai faltar alguma coisa não pedida no material inicial, seja um saco de cimento ou mais alguns caibros e ripas. E dá-lhe cartão de crédito!

Depois de tudo, vem o acabamento. Escolher uma loja de materiais de construção grande pode ser mais viável por causa da quantidade de opções, mas isso vai do gosto de cada um. É importante atentar para itens geralmente deixados de lado pela maioria dos consumidores, como taxa de entrega e porcentagem de desconto para o caso de compras à vista. Detalhes como esses podem diminuir bastante o preço da compra e a pesquisa também acaba sendo outro trunfo para os desavisados.

Alguns atropelos sempre vão acontecer, mas é preciso estar preparado para saber burlá-los. Paciência e autocontrole são as palavras de ordem nesse caso, principalmente se você tiver que ficar em casa durante todo o período da reforma. Fiscalizar o serviço do profissional é fundamental a fim de que tudo saia do seu jeito e que não fique faltando nenhum retoque para depois. A dor de cabeça acaba sendo parte do processo, mas eu bem que gosto. São situações como essas que nos mostram como agir frente a dificuldades, geralmente imprevisíveis. Uma reforma, por mais simples que seja, pode nos ensinar muita coisa, desde como economizar e conhecer quem realmente são seus vizinhos. Aqueles marocas!

domingo, 30 de setembro de 2012

Procura-se!

É sério. Tenho andado com uma vontade absurda de te conhecer, de saber o que você pensa, pra que time torce, pra qual candidato a prefeito vai votar nas próximas eleições... Estaria você me esperando? Porque eu tenho te esperado feito criança pequena aguardando a mãe chegar do trabalho, ansiosa pelo afago carinhoso de alguém único. Quem sabe a gente já se conheça e esteja apenas esperando um desses acontecimentos misteriosos pra unir nossas estradas tortuosas. Saiba, antecipadamente, que já sou todo seu, corpo e alma, razão e emoção.

Futura decepção, por onde você andará? Quando penso em você, visualizo todos os nossos momentos felizes, cada beijo apaixonado, cada passear de mãos dadas, tudo feito filme em pré-produção. Mas, infelizmente, também enxergo nossas desavenças, brigas e desilusões, passíveis a qualquer casal dito perfeito. Estaria você certa e eu errado? Estaria eu esperando o momento certo pra dizer que você é a errada? Paciência. Parcimônia.

Minha paz, cadê você? Eu ainda nem te encontrei e já me vejo em seu colo, querendo não sair daí nunca mais, colado, grudado feito tatuagem, mas sem ser chato, insuportável ou chiclete, afinal, tudo tem limite. Vou adorar nossas saídas, nossos fins de tarde e/ou noite, nossos comportamentos extremamente idiotas perante pessoas importantes. Vou te adorar, te amar, seja lá o que esse verbo queira dizer. E eu quero dizer que eu quero você.

Isso, se esconde. Eu sei que é só pelo prazer de brincar de gato e rato comigo, onde a gata é você. Vou continuar contando até 1000 com os olhos fechados, virado para a parede, esperando a hora certa pra sair por esse mundo revirando cada canto com um único objetivo: te achar. “Me encontra ou deixa eu te encontrar”. A última vez em que eu ouvi essa música pensando no futuro, namorei por 1 ano e 1 mês. Vai que dá certo de novo!

Espera sem pressa porque eu tô saindo de casa com o violão pra te fazer serenata. Vou cantar pra você como nunca cantei pra ninguém. Vou dizer a você o que eu nunca disse a ninguém. Vou ser pra você o que eu nunca fui pra ninguém. E que ninguém pense em atrapalhar nossa história bonita, querendo escrever um final infeliz pra um dos lados. Vão se arrepender. Odeio essa gente pós-graduada em estragar tudo.

Já disse hoje o quanto eu quero cuidar de você? Experimentar esvoaçar esses seus cabelos feito vento da primavera e te arrancar risadas às 3 da tarde de um dia difícil. Rabiscar textos sem sentido com os olhos cheios d’água pensando em você e sair à procura de um jardim tão perfumado quanto seu corpo, quanto seu ser. Por essas e outras e por todas e tantas, quero te fazer feliz, mesmo que você não queira. Mesmo que você não pense em pensar em mim. Que sejamos um só, feito carne e unha, desejo e reparação. Escrito isso, só preciso te dizer mais uma coisa, ou duas: Eu te amo, guria. Eu te amo!


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mixtape - 400 Anos de São Luís

Como nenhuma comemoração fica completa se não houver música, resolvi criar essa playlist totalmente maranhense para festejar os 400 anos de São Luís. De início, pensei em selecionar 10 canções e criar um Top 10, contando um pouco mais sobre elas e o que representam pra mim, mas logo vi que a lista ficaria pequena demais. Ouvi tanta coisa boa ao longo desses 20 anos em rádios como a Mirante FM e a Universidade FM que seria covardia não incluir toda essa salada musical local por aqui. A seguir, você confere 50 músicas de artistas genuinamente maranhenses ou que têm sua história ligada ao estado, em ritmos que vão da MPM (música popular maranhense), passando pelo rock até chegar ao famoso e querido bumba-meu-boi, com seus incríveis e variados sotaques. Aproveite e passeie pela história de São Luís ouvindo boas músicas.

Mixtape - 400 Anos de São Luís by Marcos Lima on Grooveshark

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Aquela antiga felicidade

Chega de tanto choro. Eu te trouxe pro samba, minha velha, esqueceu? Esqueceu como éramos felizes no batuque do sagrado swing do coração? Esqueceu a velha nota dó que eu tocava pra você só pra chamar atenção? 1970, você grávida do nosso mais velho. Como eu estava feliz. Seria pai em plena ditadura militar, em meio a protestos, gritos e ecos de gente inocente. São Luís ainda não era nada. Tinha uma ponte recém-inaugurada e algumas dúzias de pessoas se permitindo a passar pro outro lado. Eu não queria estar entre essas dúzias. Por mim, continuava no bairro de Fátima, ao lado da minha Fátima. Mas você insistiu. Insistiu em vida nova, em começar de novo pras bandas do São Francisco. Nossa vida sempre rodeada por santos, anjos e Deus, não é mesmo?

Era tão bom poder caminhar sobre o Anil. Atravessar a ponte disposto a pensar em tudo e nada ao mesmo tempo. Sentir a brisa gelada do mês de Agosto enquanto alguns carros modelo 80 passavam por mim com seus escapamentos soltando fumaça. Meu destino era a feira da Praia Grande na tentativa de alimentar melhor nossos dois filhos. Augusto queria camarão fresco e Carlos Alberto só pensava em um carro pra levar as namoradinhas pra Gonçalves Dias. A Vale começava a operar pras bandas do Bacanga e tentar garantir um emprego por lá não seria um mau negócio. Consegui, veio o Chevette 88 e a democracia. A promessa era de um novo tempo. Caixas d’água espalhadas pela cidade, viadutos e o nosso lazer em uma avenida litorânea. Novamente, foi você quem sugeriu a Ponta D’Areia. E minha virada de século só foi completa porque estávamos unidos e felizes feito família de comercial de loja de material de construção.

Eu te trouxe pro samba, mulher. Aqui, nesse sábado ensolarado, de calor nunca visto por nós nem por ninguém nessa ilha de encantos e azulejos. Já pode sorrir ouvindo “Conselho” ou “Deixa a Vida Me Levar”. Deixa de desconfiança. Eu não vou te trocar pelos shoppings e vias expressas. Não vou me contentar com veículos leves e sobre trilhos nem com relógios gigantes fazendo contagem regressiva pra não sei o quê. Eu só quero você por perto, admitindo ter 62 e eu 65. A gente já viu tanta coisa juntos, lembra? Lembra a alegria de Carlos Alberto quando passou na prova da Ordem? E de Augusto insistindo pra namorada paulista que camarão fresco era a melhor comida da cidade, você lembra? Chega de chorinhos e chorões. Vamos pra casa. Que bom que você aceitou voltarmos pros lados da Kennedy e terminarmos essa história bonita onde tudo começou. Te amo, Fátima. E só vou deixar de te amar se você votar de novo no atual prefeito!

São Luís (1978)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Contos de Whisky VIII

O cansaço tomava conta de seu corpo. Havia bebido demais durante a noite inteira e tudo o que queria era uma cama pra relaxar, de preferência em um quarto onde o ar-condicionado marcasse 17ºC. Paulo Roberto era um sortudo. Filho de um dos advogados mais respeitados de São Luís, poderia ter tudo o que quisesse na palma de sua mão, a qualquer momento. Quando criança, era aluno exemplar do Reino Infantil. Adolescente, deixou as boas notas no passado e resolveu o conhecer o mundo dos boletins vermelhos, das suspensões, das brigas e da bebida alcoólica em festinhas comumente chamadas de resenhas. Tinha um bom papo com as meninas e não se permitia sair dessas bebedeiras sem beijar pelo menos umas cinco. E transar com uma ou duas, sei lá.

Morava na Ponta D’areia com os pais e tinha uma casa de praia em seu nome em Panaquatira, do outro lado da faixa litorânea. De vez em quando, chamava os amigos mais chegados para farras regadas a muito uísque e forró na mansão praiana. Já havia experimentado crack, loló, maconha e outras dessas drogas que ninguém sabe o nome. Repudiava a ideia de namorar, principalmente depois de uma experiência frustrada com Karla, que o fez de trouxa ao trocá-lo por Gabriela, a menina mais bonita, pra não dizer gostosa, do Ensino Médio da época. Paulo era “estilo namorador”, “gostosão daqui” e mais “raparigueiro” do que ele, só seu papai. Dirigia pela cidade amparado pela falta de fiscalização contra essa gente sem carteira que insiste em dizer que sabe dirigir. Uma vez fora parado na Avenida dos Holandeses, bêbado e desabilitado. Pagou 20 reais do troco da entrada cara da Second Floor ao policial gordo e barbudo e foi embora, desenhando a letra S pela pista.

Paulo Roberto não sabia o que iria acontecer, só sabia que não poderia dormir ao volante. Maldita hora em que resolveu sair do Chez Moi bêbado só pra levar aquela guria de vestido curto pra um motel na Areinha. Poderia ir pra casa, atravessar a ponte e refazer o caminho já tão conhecido em suas noites de menino ébrio. 21 anos e nada de aprender com a vida. Sábado era dia de esquenta com os amigos e depois Candy “só pra ouvir a boa música eletrônica que toca por lá”. Domingo, após acordar ao meio-dia, sua maior indecisão seria escolher entre Trapiche ou Chama Maré. Segunda, novamente acordar tarde, ver suas notificações do Facebook e ir pra aula de Direito no CEUMA, agora Universidade. Paulo era o típico estudante de Direito que fazia tudo errado. Mas as meninas gostavam, então era isso que importava.

Com Isabella era bem diferente. 18 anos, moradora da Cidade Operária, filha de um pedreiro e uma costureira. Bem clichê, eu sei. Mas o que não é clichê nessa vida? Prestes a terminar o Ensino Médio, mesmo depois de uma greve que estragou seu 2º ano, Isabella só pensava em fazer o ENEM  e conseguir passar para o curso de Letras na UFMA. Estudava no Liceu Maranhense e enfrentava horas de congestionamento em um ônibus velho e apertado que nada tinha de Tropical e que nem São Francisco dava jeito. Apesar de tudo, ia cedo para a parada a fim de encontrar um lugar para sentar e ler seus romances de adolescente. Tinha lido todos os livros da saga Crepúsculo e os lia rápido com a intenção de devolvê-los para seus donos. Lembro a alegria da menina Isabella ao entrar pela primeira vez em um cinema e ver aquele Edward materializado em um ser humano. Era parecidíssimo com o galã que havia imaginado – e que a Stephenie Meyer fez tanta questão de descrever.

Namorados? Isabella teve uns dois. O primeiro, seu vizinho, era um bom rapaz, mas Isa sempre desconfiou de sua fofura e gosto por coisas de meninas. Vivia elogiando suas roupas e esmaltes, além de adorar filmes como Meninas Malvadas e Legalmente Loira. Tempos depois, se assumiu homossexual e hoje namora um desses bombadões do Renascença. O segundo namorado foi a paixão arrebatadora de uma menina, desses príncipes encantados que elas sempre falam. Namoraram por 2 anos e o ciúme excessivo prejudicou todo o resto. Davam-se bem, apesar de ele não querer saber de estudar e ela viver grudada aos livros. Vaidosa toda, economizava o que podia para comprar as roupas mais bonitas na feira do bairro. Me esqueci de falar: Isabella adorava a Rua Grande.

Frequentemente, entrava em um ônibus sem destino específico. Encostava a cabeça na janela e  começava a imaginar uma vida diferente. Passava pela Jerônimo de Albuquerque e selecionava os lugares que um dia pretendia conhecer, principalmente as pizzarias do Vinhais. Pensava que tudo mudaria quando começasse a faculdade. Logo arranjaria um emprego e ganharia independência, eximindo seus pais da necessidade de bancá-la. Adorava as vidraças da UNDB e sonhava em um dia ter grana suficiente pra fazer um segundo curso por lá - quem sabe Direito, sua segunda paixão. De vez em quando, descia no Tropical/Monumental Shopping e perdia horas, ou sentada na praça principal admirando os transeuntes ou na Nobel lendo os primeiros capítulos de livros que ela não podia comprar – ainda.

Isabella nunca havia bebido e a primeira vez seria hoje, agora, nesse exato momento. Noite de sexta-feira. Paulo Roberto acabara de tomar seu primeiro drink na boate do Reviver e Isabella ouvia o primeiro reggae no Porto da Gabi.  Como aquela morena gostava de um reggae. Nascida na Jamaica Brasileira, deixava suas tranças e seu rebolado dominarem todo aquele corpo, delgado, cor do pecado... Não era difícil um homem se aproximar. Isa, meio tímida, não sabia como lidar com a situação. Esquivou-se, protestou, mas acabou dando um beijo no rapaz já meio bêbado. Mais cerveja de um lado, mais “bombeiro” do outro. Paulo e Isa beijavam e espantavam os mesmos fantasmas, mesmo com vidas diferentes e sem ao menos se conhecerem. Trágico destino, responsável pelas maiores desgraças do mundo, até daquela que se chama amor.

Paulo Roberto começou a encarar a loira de vestido sedutor. Ela retribuía seus olhares e em menos de 1 minuto, os dois estavam entrelaçados por línguas e mãos. A menina tinha sede por sexo. Deixou que os dedos de Paulo percorressem seu corpo de academia por espaços nunca antes desbravados por qualquer homem – nem mesmo por aqueles da sexta e do sexo passados. Isabella misturava sensações e bebidas como se misturam letras ao escrever um texto. Eu observava os dois, como se fosse possível estar em vários lugares ao mesmo tempo. Paulo queria mais e Isabella começava a achar que já era demais. Maldita hora em que sua prima resolveu comemorar o aniversário naquele bar do Aterro do Bacanga.

O cansaço tomava conta de seu corpo. Isabella havia bebido demais durante a noite inteira e tudo o que queria era uma cama pra relaxar, de preferência em um quarto onde o ar-condicionado marcasse 17ºC. Chamou a prima, que a essa altura já estava apaixonada por um cara do Coroadinho, e ordenou, cambaleando, que fossem embora. Paulo Roberto e Renata giraram a roleta e saíram da casa noturna à 1h16. Paulo prometeu levá-la a um lugar inesquecível e ela já sabia o quanto motéis eram inesquecíveis. Andou pelas ruas de pedra e chegou ao estacionamento da Praia Grande onde seu carro estava. Já tinha carteira, mas não tinha juízo. A moça se alegrou quando viu aquela Hilux e ficou um pouco mais excitada. O que o dinheiro não faz, né?

1h16. A prima de Isabella pediu uma água e um tempo para se despedir do rapaz. Trocaram telefones e se beijaram por mais alguns minutos. 1h28. Paulo Roberto ligou o carro e saiu em disparada sentido Areinha. Isabella e a prima atravessaram o Aterro na intenção de pegar um táxi em uma fila de carros do outro lado da avenida. Maldita escolha. Poderiam ter pedido outra água, ouvido mais uma música, a prima da garota poderia ter dado mais um beijo, Isabella descansar sentada em uma mesa, mas não. 1h30. Paulo Roberto piscou e forçou os olhos sucessivamente a fim de se manter acordado e sequer percebeu a aproximação de duas pessoas quando passava em frente ao Aterro do Bacanga.

Atropelamento com vítimas, carro amassado, curiosos e um rapaz atormentado. Sangue sobre a avenida e álcool no sangue. Dos dois, dos três, dos quatro. Quatro infelizes que estavam apenas se divertindo. A prima de Isabella já não respirava quando a primeira ambulância chegou. Morreu comemorando o aniversário. Cumpriu sua sentença. Paulo Roberto, atordoado que estava, não quis envolver Renata na história. Pagou um táxi para a garota, o mesmo que Isabella pegaria, e a fez sumir. Era como se todo o sono acumulado tivesse ido embora ao ver aquela bela morena quase desfalecida no chão. Ligou para os pais, ouviu esporros e esperou que viessem madrugada adentro.

Isabella estava mal. Com os olhos abertos, olhava a lua, clara e cheia como deveria estar. Sentia as piores dores e só pensava nos pais, pobres miseráveis que, provavelmente, só saberiam de toda a desgraça na manhã seguinte. Foi quando o olhar bucólico de alguém a acertou. Paulo Roberto, em um misto de tristeza e pena, admirava a garota e repetia insistentemente a palavra “desculpa”. Isa queria dizer alguma coisa, mas se limitou a gemer de dor. Polícia, ambulância, a prima morta. Tudo tão rápido feito a cadência de seus sonhos. Não sabia do futuro. Não sabia se iria pra UPA do Itaqui-Bacanga, pro Hospital Geral ou pro Socorrão. Estava entregue ao acaso.

Os pais de Paulo Roberto chegaram e pediram que a ambulância seguisse para o hospital particular mais próximo do local do acidente. Arcariam com as despesas e consequências. Paulo, preso, seguiu para a delegacia. Prestou depoimento, pagou fiança e foi imediatamente ver a moça acidentada. A morena havia quebrado a perna e fraturado uns dos braços. Naquele momento, Paulo pensou em mudar. Pensou em ser mais responsável, mais estudioso, menos displicente. Era como se tivesse tomado um choque de realidade ao ver aquela moça, inocente e desconhecida, sofrendo.

Isabella sofria por ele sem ao menos saber disso. Seria sua redenção, de todas as formas possíveis. Ao acordar e ver os pais chorando no quarto daquele hospital, só pensava em seus sonhos. A família de Paulo pediu desculpas à família de Isabella e prometeu dar uma ajuda para cobrir os custos com remédios além do pagamento da conta do hospital. A mãe da garota disse que não aceitaria, que dinheiro nenhum traria a vida da sobrinha de volta e praguejou contra o irresponsável do Paulo Roberto. Isabella pedia calma e uma conversa com o rapaz.

De cabeça baixa, Paulo Roberto entrou no quarto branco e pediu as mesmas desculpas de horas antes. Isabella perguntou o que havia acontecido e ele tentou explicar, omitindo a intenção de ir ao motel com a loira, é claro. A garota contou que tinha ido comemorar o aniversário da prima, bebeu demais e o resto vocês já sabem. Ambos tinham bebido demais. Ambos tinham anseios demais. No final das contas, somos iguais quando estamos unidos por sonhos iguais. Paulo Roberto entendeu que responsabilidade não tem nada a ver com ficar trancado em casa em uma sexta à noite assistindo ao Globo Repórter. Isabella, por sua vez, a cada nova conversa com o amigo atropelador, descobria partes de São Luís que ela jamais pensara existir. A única cabana do sol que conhecia era o guarda-sol de praia que seu pai tinha ganhado de uns patrões antigos para cobrir uma parte do telhado quando ainda chovia demais.

Paulo Roberto e Isabella são a síntese de coisas que acontecem todo dia nessa cidade quatrocentona. Gente diferente que se esbarra nos coletivos, nas festas, no trabalho ou na rua mesmo. Amanhã, quando você sair de casa, pense nos outros como pessoas capazes de acrescentar conteúdo em sua vida. Não espere que algo ruim aconteça para dar a devida importância em quem está ao seu redor. Não moramos em uma porção de terra cercada por água de todos os lados. Moramos em uma porção de terra cercada por gente de todos os lados. Não naufrague no Rio Anil como Paulo Roberto provavelmente faria se continuasse com seus velhos hábitos. A história dos dois fica em aberto, como a minha, como a sua. Final feliz? Me atrevo a dizer que bebem vez ou outra. Doses de amor.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Cidade no Tempo (Artigo)

No próximo sábado, dia 8 de Setembro, São Luís completará 400 anos. E essa data não poderia passar despercebida aqui no Senhor do Tempo. Durante toda a semana, como forma de homenagear a cidade e transmitir conhecimento aos leitores, estarei publicando textos que de certa forma representam minha paixão por essa ilha tão encantadora, cheia de lendas e mistérios, histórias e poesia.

A primeira, desta série de 4 publicações, remete diretamente à história da cidade. Trata-se de um artigo feito por mim em 2011, quando eu ainda cursava a graduação em História. Minha busca por entender um pouco do passado de São Luís fez com que eu me debruçasse sobre suas ruas e avenidas em busca de respostas para as dúvidas de muita gente. Por que a Rua dos Afogados tem esse nome? Qual o primeiro bairro da cidade? E o Beco da Bosta? Há um sentido por trás de todas essas denominações ou elas não passam de nomeações aleatórias?

Além do plano histórico, procurei estabelecer também uma contemporaneidade, a fim de proporcionar aos leitores uma fácil compreensão e atenção ao tema discutido. No artigo, é possível entender o significado por trás de nomes como COHAB, COHAMA e IPASE, bairros com alta densidade populacional atualmente e que não passam de siglas de cooperativas importantes para o desenvolvimento da capital durante o governo militar.

Espero com este artigo poder ajudar estudantes, curiosos e habitantes de São Luís a conhecerem melhor nossa cidade, servindo de auxílio para projetos futuros e ideias que transformem verdadeiramente a cara da ilha. Que a história nunca se perca e sempre permaneça em nossa mente. As futuras gerações agradecem!

sábado, 4 de agosto de 2012

Top 10 - Músicas Para Admirar a Paisagem

Quem nunca se encostou na janela do ônibus (ou do carro) e se imaginou em um videoclipe enquanto ouvia uma música qualquer? Dependendo do estado de espírito, aquele momento pode se tornar eterno ou acompanhar você por muitos e muitos anos. A seguir, uma lista com 10 sons perfeitos para admirar a paisagem ao seu redor, combinando sentimentos e melodias em uma só oportunidade.

10
Push Your Head Toward The Air by Editors on Grooveshark
Lembro que eu estava ouvindo essa música no fone de ouvido quando tive a ideia dessa lista, há uns 2 anos. Trata-se de uma melodia leve, melancólica, com uma letra encorajadora ("Now don't drown in your tears, baby. I will always be there"). Perfeita para atravessar uma ponte relativamente pequena como a Ponte José Sarney aqui em São Luís (820m de extensão).

9
Wonderland by Collapsis on Grooveshark
Conheci a Collapsis há alguns meses, apesar dessa música ser de 2000. Tem tudo o que eu considero essencial para entrar nessa lista: melodia suave, tranquilidade e uma boa letra. Dá até pra curtir a fossa de um fim de namoro vendo o pôr do sol transformar a paisagem a sua volta em uma belíssima obra de arte.

8
This Isn't Everything You Are by Snow Patrol on Grooveshark
Outro dia voltei pra casa ouvindo essa música no carro de um amigo. Imediatamente, associei ela a essa postagem. É uma canção que fala de superação, aceitação de si mesmo e, acima de tudo, induz você a continuar ("Don't keel over now. Don't keel over"). Sem falar que é de uma das melhores bandas britânicas da atualidade, cujo último álbum (Fallen Empires, 2011) está impecável.

7
Kings and Queens by 30 Second To Mars on Grooveshark
A paisagem que eu tinha era um shopping lotado. Ao sair do cinema, após a sessão de um dos melhores filmes nacionais que já vi (2 Coelhos, 2012), me veio tudo em mente: família, relacionamentos, passado, presente, futuro. E parecia que a música ecoava enquanto eu via todos aqueles "reis e rainhas da promessa" passeando. Experimente olhar o mar ouvindo essa música. Sensação indescritível.

6
Be Yourself by Audioslave on Grooveshark
Já andei bastante de ônibus nessa vida. E se teve música que me acompanhou em praticamente todas essas andanças, foi "Be Yourself" do Audioslave. O título já diz muita coisa, mas ela não é feita apenas disso. O solo de guitarra no meio da canção é um verdadeiro exílio. Sugiro que seja ouvida na estrada, enquanto rola aquela viagem em família. Vai fazer você repensar um montão de coisas.

5
Lugar ao Sol by Charlie Brown Jr. on Grooveshark
Eu já disse por aqui que essa é uma das minhas músicas favoritas. Deixar de inclui-la nessa lista seria um verdadeiro pecado. Tudo porque ela é pura expressão de liberdade, de desejo de chegar a um lugar e lá ficar em paz. Combina com fim de tarde na praia ou com banho de chuva na rua. Depende apenas de você.

4
Comin' Home by City and Colour on Grooveshark
Logo nas primeiras batidas de violão dessa música já dá pra sentir que ela transborda sentimentalismo. Prestando atenção à letra, percebemos um sujeito que passou por vários lugares do mundo em busca de um amor perdido e que agora só quer voltar pra casa e descansar. Para admirar qualquer paisagem, desde que faça você lembrar suas origens.

3
Take You Back by Jeremy Camp on Grooveshark
Perdi as contas do quanto eu ouvia essa música no carro dos pais da minha ex-namorada. Ela tem a vibração do pop-rock que eu curto, mesmo sendo de uma banda representante do rock cristão americano. A letra é tipicamente dedicada a Deus, então acaba aproximando você de coisas boas, fortalecendo sua fé. Eu sempre ouvia a família dela dizendo que viajaram ao som de "Restored" (2004), o álbum mais conhecido da banda. Então fica a dica de trilha sonora para sua próxima viagem, independente de crença ou religião.

2
Somewhere Only We Know by Keane on Grooveshark
Experimente sair por aí ouvindo essa música no fone de ouvido, sob duas circunstâncias: paixão avassaladora ou decepção amorosa. Tive a oportunidade de vivenciar esses dois momentos e ela se encaixou perfeitamente nas duas vezes. O piano e a batida cadenciada ao longo da canção vão fazendo você pensar na vida, nos momentos importantes até ali, como se fosse um filme, uma cinebiografia com a trilha sonora que você mesmo escolheu. É de tirar o fôlego.

1
I Won't Give Up by Jason Mraz on Grooveshark
Final de tarde e tudo o que eu queria era ir pra faculdade e tentar esquecer mais uma dessas minhas decepções amorosas recorrentes. O ônibus começara a lotar e meu fone de ouvido seria o único companheiro ao alcance. Sintonizei a última frequência entre as rádios locais e me pus a olhar para o mar, desligado do mundo coletivo de 210 centavos. Foi quando os primeiros acordes dessa música, ainda desconhecida naquele instante, surgiram. E eu não pensei em mais nada, em mais ninguém, apenas em não desistir, em seguir em frente, mesmo se os céus ficassem violentos. Uma experiência única e, sobretudo, especial para mim. Não espero que seja igual para você, mas que seja, no mínimo, fortemente marcante.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um vício chamado Avenida Brasil

Manhã de quarta-feira. Depois de dois dias, finalmente resolvi buscar meu tênis no sapateiro. Nada de tão grave. A parte da frente do calçado havia descolado e eu não achei necessário descartá-lo. Seria um conserto simples, algo que aquele cara já fizera muito na vida, a contar pelo tempo que o conheço aqui no bairro. Chegando lá, o serviço ainda não estava pronto. O sapateiro me ofereceu um toco de árvore para sentar e aguardar alguns instantes até que ele finalizasse seu trabalho. Ao sentar, fiquei observando o local: uma casa de barro muito suja, dividida entre oficina mecânica e sapataria. Tamancos, sapatos de festa e tênis surrados espalhados pelo espaço onde, tenho certeza, é morada de uma centena de animais diferentes e asquerosos.

A aparência do sapateiro também não era convidativa. Descalço, barrigudo, com um calção que mais parecia um pijama do que uma bermuda para ir ao trabalho, o homem tecia diversos comentários com seus amigos de profissão sobre todos os assuntos possíveis. Família, religião, esporte e, pasmem, novela. Não uma novela qualquer. A febre, a sensação do momento: Avenida Brasil. Chamava o amigo de Tufão, em uma alusão ao personagem interpretado por Murilo Benício (até hoje não entendo se o chamando de craque do futebol ou de corno manso). Apelidava o outro companheiro de trabalho de Leleco, comparando o indivíduo ao personagem mulherengo de Marcos Caruso. Como gosto da novela, acabei entrando na brincadeira, rindo junto com os tais homens rústicos e achando engraçada toda aquela situação.

Ao voltar pra casa, me pus a pensar na influência que essa novela anda tendo em nossas vidas. Antigamente, essas obras de ficção eram coisas para mulher ou gente desocupada. Era extremamente vergonhoso ver um homem falando dos tais romances televisivos. Ainda bem que tudo mudou. A sociedade atual, responsável por igualar homens e mulheres em direitos e deveres, serviu para eliminar tabus e fazer surgir diálogos antes impossíveis, como o supracitado. Novela deixou de ser coisa de salão de beleza de dondoca e passou a ser produto de consumo de todos os gêneros.

Como estudo à noite, nem sempre dá pra acompanhar todos os capítulos de Avenida Brasil, mas, sempre que posso, deixo gravando ou assisto tudo pela internet no outro dia. Tenho amigos que estão vendo a história desde o início porque não puderam acompanhar as primeiras emoções. 90% de minha timeline no Twitter comenta a novela e isso inclui gente que eu nunca pensei que fosse parar uma hora em frente à TV só para acompanhar a tão bem engendrada trama de vingança de autoria de João Emanuel Carneiro.

Avenida Brasil nos seduz. Seduz pelas imagens do Rio de Janeiro, pela trama suburbana a qual vivemos diariamente na vida real, pela família que fala alto, pelo amor possível/impossível dos mocinhos, pelo sentimento de vingança que passa na cabeça de todo ser humano ao ser injustiçado. Aliás, vingança ou justiça? Até que ponto você iria para acertar as contas do passado com gente que não presta? Concordo plenamente com quem diz que deve haver, no mundo das telenovelas, um antes e depois de Avenida Brasil. O #Oioioi do ritmo angolano une milhares de dançarinos amadores brasileiros em frente ao vídeo. Pobre, rico, branco e negro, só pra citar as grandes desigualdades presentes em terras tupiniquins. A Avenida Brasil do título deixou de significar “a marginal que corta boa parte do Rio de Janeiro” para virar um local de reunião dos brasileiros sedentos por boas histórias, que os desopilem da dura realidade de trânsito lotado, dívidas e insegurança.

Novela não é coisa de gente influenciável, alienada ou algo assim. Novela é coisa de brasileiro, de gente que quer torcer por alguém, se apaixonar por algum, se deixar vivenciar aquela história, tal qual se faz em um livro de Dostoiévski, Bukowski ou Carlos Ruiz Zafón. Você sente falta quando acaba, quer um replay e sempre repete que nenhuma outra será igual a que acabou de terminar. Avenida Brasil é um jogo da seleção brasileira em final de Copa do Mundo só que sem a parte do jogo. E a gente fica nervoso, espera os comerciais para ir ao banheiro, falta à faculdade e descobre que verossimilhança é só questão de ponto de vista. Afinal, não tem horas que sua vida parece uma novela, cheia de nós e momentos emocionantes? Se tem, fique certo de apenas uma coisa: é tudo culpa da Rita!

Um mês sem postar nada aqui no blog. Culpa da Rita, certeza!

domingo, 10 de junho de 2012

A escritora, a pintora e a cinéfila

Algumas coisas da vida a gente guarda na mente com carinho. A lembrança do cheiro da mãe, o primeiro dia de aula, a casa da infância, a melodia de nossa música preferida... Em meio a tantas sensações diárias, só nos resta catalogar cada experiência e depositar lá no fundo da memória, em um verdadeiro baú de sentimentos. De vez em quando, nos permitimos a abri-lo e resgatar algumas coisas, jogando fora outras. Nessa faxina emocional, inevitavelmente nos deparamos com detalhes despercebidos, mensagens não decodificadas e palavras soltas, que só fazem sentido agora, depois de muito tempo. Tarefa do dia: abrir meu baú de fatos e limpar seus objetos empoeirados.

Não quero comparar ninguém, mas as três tinham uma veia artística inegável. Uma, escritora nata, salivava poesia toda vez que falava. A cada atitude impensada, a cada modus operandi diferente do meu, um sarau de vícios e virtudes aparecia, prendendo a atenção do único expectador interessado naquele espetáculo. Uma personagem digna de todos os prêmios da academia, presa aos solavancos da vida, essa a sua única inspiração. Moça sábia, de aventuras literárias enaltecidas em seus passeios de coletivo. Não sei se ainda existe, se ainda mantém resquícios da menina mais velha que um dia conheci, só sei que faz falta – no sentido mais puro e sem segundas intenções que possa existir.

A segunda, em ordem crono-ilógica, veio da música. Veio da partilha de sentimentos fora de validade diretamente ao encontro de alguém totalmente disponível e apaixonável. Aprimorou a arte do bem querer, do “tudo vai ficar bem”, do “me namora”. Esteve disponível por todos os dias, horas, minutos, até ir embora sem eu bem entender por quê. Alguma coisa sobre liberdade, sobre eu não ser a pessoa certa. Como a primeira, também tinha tino para a arte. Pintou o amor em formas retas, brandas, inimagináveis. Ligada com a mente, envolveu-se e desenvolveu-se ao longo do tempo. Também faz falta, mas cabe ao tempo, esse senhor de destinos, regular os ponteiros de nosso desencanto.

A última e não menos importante, veio do nada. Do cotidiano de fins e começos, de histórias desconsertadas. Tinha tudo e mais um pouco e me fez perceber que “tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom”. Morava no bairro perfeito, falava as palavras perfeitas, queria a profissão perfeita, era a garota perfeita, cheia de imperfeições. Venci todas as etapas possíveis, mas não passei no teste da indecisão. Como em uma comédia romântica carregada de reviravoltas, me vesti de drama e senti o terror de estar em um filme de ação. Eu, amante desengonçado da sétima arte, perdi o final da história por simplesmente não querer assisti-la. Tal qual ela fez. A que mais falta me faz e a que menos eu sei como fazer pra ter de volta sem desejo e sem lampejo de felicidade.

No final, sempre acabamos descobrindo que nosso baú não tem tamanho, é um buraco negro de memórias boas e ruins. Deus me livre de um brilho eterno de uma mente sem lembranças. Prefiro ler Caio Fernando Abreu, durante uma exposição de Romero Britto, antes de assistir a “Cada Um Tem a Gêmea Que Merece” – que, aliás, é um péssimo filme.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Desabafo de uma Julieta qualquer

Ando cansada dessa história de Romeu e Julieta modernos. Cadê o veneno? Cadê a emoção? Quando finalmente poderemos ficar juntos? Talvez fosse melhor apelar para a inimizade de nossas famílias, mas elas sequer se conhecem. A gente odeia essa bobagem de apresentação familiar, lembra? Aliás, a gente odeia tanta coisa juntos. Daqui eu nem te odeio, só odeio essa indecisão de menino que não sabe se vai jogar futebol com os amigos ou se fica em casa sozinho brincando de videogame. Já tá na hora de crescer, viu?

Ok, eu sei que não sou modelo de decisão nem de menina crescida, mas é que uma hora cansa. Cansa me arrumar toda e você sequer notar. Cansa eu ficar de mãos dadas a noite inteira com você e a menina de vestido curto chamar mais atenção. Eu sinto sua falta, sabia? Não sou tão insensível assim, apesar de meu sarcasmo exalar por todos os poros do corpo. Corpo esse que eu queria que fosse todo seu, pelo menos uma vez. Mas será que é isso que você quer? Ainda acho que nos conhecemos no momento mais cruel de nossas vidas, aquele em que não podemos ficar juntos.

Às vezes paro e procuro entender seu lado. Ex-namorada traumática, prazeres alcoólicos desmedidos, um amor escondido pela Julieta sofredora. É um medo besta de deixar tudo pra trás e ir lá ser feliz, né? Pra falar a verdade, eu me preocupo com você. Não é egoísmo e preocupação exclusiva de quem quer ser sua, é simplesmente cuidado, uma proteção boba que eu não sei de onde vem. É uma amizade diferente, um “para com isso, deita aqui no meu colo e deixa eu te fazer esquecer os problemas”. Queria ser uma dessas formiguinhas que de vez em quando passeiam por nosso corpo e morder seu pé só pra chamar atenção. Falando assim pareço até desesperada. Aliás, quem é não desesperado quando ama?

Amar? Nem sei se é isso mesmo, mas que é forte e consumidor de minhas forças, isso é. Minhas amigas acham você um idiota e meus amigos juram bater nesse seu rostinho lindo qualquer hora dessas. Mas eu te defendo, feito leoa defendendo a cria, feito futura namorada defendendo a felicidade. Apesar dos pesares, você me faz bem. “Gosto de você, gosto de ficar com você”, como diziam os Tribalistas. Hoje somos apenas lembranças de encontros fortuitos, beijos calorosos e despedidas carregadas de lágrimas. Esse adeus doído que vivemos dando e que não passa de indecisão – sua, diga-se de passagem.

Não vou esperar você. O que não significa dizer que não seria legal se um dia você voltasse. Hoje me permito a dizer que estamos vivendo o fim de algo que nem começou, feito não namorados, feito amantes descobertos pelo pai da noiva. Você foi e sempre será meu bobão, o garoto da bochecha mais gostosa de apertar, o meu indeciso favorito. Meu veneno, minha história shakespeariana mais confusa, minha tragédia acalentadora. E me despeço, encerrando essa história com seu próprio punhal sujo de sangue encalacrado em meu peito cheio de amor. “Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu”.