E, de repente, acordei com 22 anos de idade. Planos
traçados, pessoas ao redor, gente completamente desconhecida aos 18 e que agora
não imagino viver longe... É como se cada erro do passado pudesse convergir em
um único ponto, fazendo você finalmente perceber que foi preciso passar por
tudo aquilo para ser alguém melhor hoje um dia. Em síntese, uma boa pessoa,
entre percalços do dia a dia e defeitos essencialmente humanos. Faço-me adepto
do exercício do autorretrato, do procurar erros em mim que eu nem sabia que existiam,
sempre precisando de uma ajudinha exterior. Vejamos.
Não sou alguém fácil. Por mais sociável que eu seja, quem me
conhece de verdade sabe dos meus pontos fracos, das minhas inquietudes e dos
meus medos. Extremamente recorrentes, esses medos são resultado de uma boa dose
de passado glorioso e limitações pontuais. Sem queixas, longe de mim. Acho até
que esses medos me ajudam em alguns momentos, pois, sem eles, eu não conseguiria
que pessoas corajosas me fizessem enxergar tanta falta de coragem. Frouxo é
aquele que não vai à batalha hora nenhuma. Minha coragem se resume em partir
para a guerra no momento oportuno. Mas até a estratégia do mais sublime herói
deve ser repensada de vez em quando.
Carrego preconceitos. Assim como uma boa parcela da
população brasileira, tenho lá meus pré-julgamentos. Todos sabemos que somos
resultado do nosso passado, da nossa experiência de vida, do nosso meio cultural.
É “aceitável” que enxerguemos com outros olhos algo estranho ao nosso convívio.
O que entendo como inaceitável é conformar-se com essa situação. Como já disse,
sou do tipo que precisa de um “empurrãozinho” para enxergar certas coisas e,
ultimamente, tenho visto que muitos preconceitos meus não têm sentido em
permanecer aqui comigo depois de tanto tempo. Feliz daquele que tem a
hombridade de reconhecer seus erros e ir em busca de uma solução precisamente
eficaz.
O novo me assusta. Mudar sempre demanda tempo e
desprendimento, é assim pra todo mundo. Mas acontece que a novidade sempre me
assusta de uma maneira maluca. Acho que é esse prazer por controle nas mãos,
por ser dono do seu próprio eu, que faz com que eu seja assim. Mas também estou
propenso a mudar. Tenho trabalhado de forma a enxergar a novidade como uma
extensão do que já existia, afinal, como ela o é. Entendo que nada é por acaso
e tudo está concatenado de uma forma ou de outra. O nosso futuro, portanto, não
é completamente desconhecido.
Romantizo demais a vida. Cada amanhecer é uma
oportunidade para recomeçar e aprender coisas novas. Faz-se necessário estar disposto a aprender sempre. Ouvir novas histórias,
descobrir horizontes e apaixonar-se pela vida a cada dia é uma forma saudável
de viver bem consigo e com as pessoas de seu convívio. Claro que é preciso
moderação. Romantizar demais no mundo cruel que vivemos hoje é ter a certeza de
que iremos nos machucar. Essa lição eu já aprendi. Mas não me privo de acordar,
fugir do meu mundinho e ir viver. Lá fora está a maior fonte de aprendizado que
alguém pode ter: a vida. Tente. Eu tenho tentado e estou tentado a continuar
tentando tentar.
No mais, apesar de querer moderar minha exposição ao
escrever, sempre chego à conclusão de que tem gente precisando ler um ou dois
parágrafos amigos, com o mínimo de experiência possível. O Senhor do Tempo
agora tem 22 e está cheio de novos motivos para acreditar que isso é o certo a
fazer. Mesmo que o paradoxo da falta de tempo insista a me abater, farei como
tenho feito com todos os meus problemas: resolverei o mais rápido possível. De
preferência, antes de dormir.
Belíssima reflexão!
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